O filme tendo como referência um holocausto, conta a estória de Guido Orefice (Roberto Benigni), um homem judeu que se apaixona por uma professora. Ela, Dora (Nicoletta Braschi), que estava noiva de um jovem rico, é cortejada de forma tão encantadora e incomum por Guido que, acaba abandonado o noivo para investir num romance mais poético, digamos assim.
Através dos métodos usados por Guido para conseguir conquistar Dora, podemos ver sua essência onírica e otimista de encarar as coisas.
Os dois casam e tem um filho, Gisué. Ao passarem os anos sob os efeitos da segunda guerra mundial, Guido e seu filho são levados prisioneiros para o campo de concentração devido à sua origem semita. Consequentemente, Dora, sua esposa, entrega-se também aos Nazistas, ficando na ala feminina do mesmo campo.
O clima pesado, as ocorrentes mortes, o demasiado mal trato, tudo soa demais para a mente de uma criança processar. Por este motivo, Guido, numa tentativa de aliviar a imagem dos acontecimentos, apresenta toda aquela situação a seu filho como um jogo em que os alemães desempenhavam papéis de maus, e no qual se ganhavam pontos por cada atividade feita.
Esse homem de grande imaginação e alto astral tenta distrair a atenção dos seus para que todo aquele pesadelo seja amenizado.
As cenas em que ele tenta contato com sua esposa, inclusive oferencendo-lhe música pela rádio do local, é tocante!
Ele consegue manter o filho em seu alojamento escondido por semanas, visto que as crianças não ficam com seus pais. Assim ele adia a morte, sem perder a esperança e sem comprometer o clima do jogo inventado para o filho. Até mesmo a ferida exposta de alguém é garantido ao filho de que faz parte da brincadeira.
A narrativa do filme é pura poesia. A beleza está em cada imagem, analogia e metáfora captada. A trilha sonora, os cenários, o enquadramento aterrador, são envoltos numa obra primorosa, sob um humor sutil, puro e apaixonante.
Em meio às cinzas, Guido faz questão de apresentar a variedade de cores para o filho, não deixando em nenhum momento de convencê-lo como "a vida é bela", por mais irônico que soasse em sua realidade.
independente se as cenas ao redor mostram o contrário, Guido mantem-se firme em sua fantasiosa idéia de que tudo é um jogo.
Após um filme assim é difícil não achar razões pela qual "Central do Brasil" perdeu para ele a estatueta de melhor filme estrangeiro. O bem apresentável filme de Walter Salles, com a ótima atuação de Fernanda Montenegro, não tinham consistência suficiente para superar a beleza de "La Vita è bella". O filme é belo até no nome. Um trocadilho mais que justo.
A mensagem mais firme do filme com certeza é a sensação de "papel cumprido" que Guido transmite. Bem sucedido em sua luta pelo amor de Dora no primeiro ato do filme, repete a dose com o filho que em nenhum momento desconfia da gravidade da situação.
A cena mais comovente e marcante dessa projeção, sem dúvida é o momento em que Guido passa diante do filho com uma arma em sua mira para ser executado, e o filho escondido (por acreditar que é necessário para o jogo) observa seu pai que segue sorrindo e fingindo marchar para que o pequeno acredite que é apenas um brincadeira. Realmente conter as lágrimas neste momento não é uma tarefa fácil.
O filme mantém um bom nível desde sua fotografia escura até as atuações que, ainda não superando Fernanda Montenegro, foram precisas. Era de se esperar o Oscar.
"A vida é bela" é um dos poucos filmes que assisti sem a pretensão de ver algo bom e me surpreendi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário