30 junho 2009

Filme "UM AMOR PARA RECORDAR"

Algumas pessoas das quais conheço que assistiram "Um amor pra recordar", de forma uníssona, classificam o filme como lindo. Logo de cara são levadas pelo romantismo desregrado, e de antemão apresentam o veredito positivo, sem ao menos ponderarem algumas questões importantes.
Apesar de eu assistir a toda e qualquer comédia romântica lançada (sem saber o porquê...), não sou fã de nenhum gênero que beira o romance.
Essa quase aversão se dá pelos seguintes motivos: falta de originalidade no roteiro e excesso de "glicose" no contexto em geral; problemas que imperam nesse estilo de filme.
Parece que a maioria deles é produzido pelo mesmo diretor, em que os personagens se assemelham, os desfechos e as situações são similares, e tudo flui sempre da mesma forma...
E isso acontece porque esses tipos de filmes vão se baseando mesmo uns nos outros. O diretor do filme, Adam Shankman, provavelmente deve ter usado o filme "Doce Novembro" como parâmetro e inspiração, afinal, "Um amor pra recordar" mais parece sua versão teen.
E se tratando de Adam Shankman, julgando por sua trajetória cinematográfica, ele está se tornando mestre em dar vida à obras clichês.
O filme tem um roteiro ingênuo (em todos os sentidos), prognosticamente dramático, que abusa de todo e qualquer recurso para comover a platéia - e consegue!
A questão é que mesmo contendo um pieguismo explícito, e um grande embate de opiniões entre críticos e público, não é uma tarefa simples avaliar essa película.

Mandy Moore, uma musa teen, dona de uma voz mezzo aveludada, e de um repertório adocicado, protagoniza essa projeção.
Não é novidade vermos cantoras se aventurando como atrizes em Hollywood. Assim elas só comprovam ao público que não erraram quanto a seguir a vocação musical. Todavia, afirmo que entre ver as interpretações deprimentes de Mariah Carey, Britney Spears e Jennifer Lopez (essa é a mais insistente), Mandy foi a menos decepcionante. Diria até que entregou uma atuação segura e satisfatória para o nível do roteiro.

O filme relata a estória de uma jovem de comportamento introvertido e puritano que, é isolada e rotulada de "nerd" em seu meio escolar por seu jeito alienado de agir e vestir. Em contrapartida nos deparamos com seu par romântico, totalmente rebelde e popular.
A idéia trivial do romance é exatamente fazer com que o personagem Landon Carter, vivido por Shane West, passe por uma transformação idiossincrática para adaptar-se ao perfil da mocinha-esteriótipo rejeitada.
Como o filme é voltado para um público específico - adolescentes - é tolerável a simploriedade da proposta, porém, a forma com que é conduzida, incomoda um pouco.
Na verdade, um filme para ser bonito, inspirador e emocionante, não necessita usar os mesmos artifícios para alcançar tais resultados.

Entre alguns pontos fracos do filme está a personalidade de Landon que, passa por uma verdadeira metamorfose, numa rapidez descomunal. Além do amor quase instatâneo dos dois, um tanto forçado. Mais rápido que esse só o de Kate Winslet e Leonardo Dicaprio no superestimado "Titanic".
Se não fosse o descuidado desenrolar dos fatos e a edição primária, o filme funcionaria melhor.

Como já foi antecipado pela crítica de Daniel Dalpizzolo o fim da estória, falarei abertamente sobre alguns fatos.
A personagem de Mandy tem uma doença irreversível, o que abre espaço para a dramaticidade desmedida. Nisso entram em cena os esteriótipos, o romance fácil, a reviravolta brusca das situações e o clima excessivamente melancólico que, aborrecem um pouco. Entretanto, a projeção conseguiu apresentar atuações e um desfecho acima da média em comparação as películas de outras cantoras, como já foi supracitado. Nos deparamos aqui com uma maturidade que normalmente não encontramos nesse tipo de filme, por isso, "Um amor pra recordar" pode ser determinado como o melhor filme estrelado por uma cantora. E um dos motivos foi que a realização do projeto não se limitou em divulgar a imagem de Mandy Moore, e sim, apresentou uma trama.
Quanto as interpretações, confesso que gostei de Peter Coyote como o pai de Mandy no filme. A posição racional, áustera e conservadora de um pai protetor e líder religioso, ficaram muito bem definidas por sua performance. A cena dele com a filha no hospital é de uma emoção gratuita, porém, tocante!

Mandy, como já citei, também não desagradou, até me surpreendeu. Já os coadjuvantes em geral não se saíram bem, assim como o próprio par romântico de Mandy, Shane West.
Ele não chega a ser canastrão, mas a meu ver, ele errou feio em limitar sua representação à "caras e bocas" (mais bocas... reparem no "bico" constante do ator). Parecia mais uma tentativa desesperada do ator em querer transmitir uma imagem de galã, o que soou nada convincente.
A cena em que ele transtornado no carro tenta esboçar um choro, ficou confusa. Não dá pra se saber ao certo o que ele estava tentando expressar. Sua feição trasmitia qualquer coisa, menos tristeza.

Agora, dentre os outros comentários e críticas que li a respeito do filme, esses citaram que a estória vai ganhando uma atmosfera maniqueísta no terceiro ato (o da doença revelada), o que pra mim não foi um erro como apontaram, já que a protagonista era religiosa e filha de um reverendo, ou seja, a crença dela seria explorada.
E sobre o triste e irredutível desfecho, ao contrário do que muitos acharam, foi pra mim satisfatório; melhor que a conclusão batida do "felizes para sempre", afinal, se é um amor pra recordar, evidentemente não tinha escapatória para a mocinha.

A trilha sonora é extremamente romântica e composta obviamente por algumas canções de Mandy como, "Only Hope" que ela interpreta no filme, e "Cry" que é a canção carro-chefe. São músicas melosas, mas suportáveis até. Para o filme ficaram sob medida.
E como última observação, eu não pude deixar de reparar na fotografia fosca. Ficou com um aspecto de filme independente... não... amador é a melhor colocação. Não sei se faltou investimento, mas deixou a desejar nesse quesito.

Concluindo, o filme não tem consistência, possui enredos requentados, e é totalmente moldado à risca com as fórmulas de filmes típicos, entretanto, afirmo que o filme, ainda assim, emociona, cativa e traz até alguns questionamentos interessantes... Paradoxo? Contraditório? Eu sei. Mas é verdade!
Ironicamente tenho que concordar com a maioria... o filme é bonito! Insisto... ainda que analisando meticulosamente o mesmo, e descobrindo mais falhas entre tantas, o filme continua sendo, inexplicavelmente, bonito.

Filme "WALL-E"

Eu confesso que resisti muito em ver "WALL-E", mesmo tendo ele críticas positivas. A causa era por saber antecipadamente que nos primeiros momentos do filme não havia diálogo algum.
Estava quase convicto que seria um filme bobo, com apelo apenas visual.
Pensei: o que um robozinho que quase não emite sons teria de interessante?
Após vê-lo só digo uma coisa, tratando-se de WALL-E, tudo é interessante! Mesmo com sua fala quase restrita em pronunciar seu próprio nome.

O enredo do filme é sobre um futuro pós-apocalíptico, onde os humanos conseguiram destruir tudo que tinha vida na terra, inclusive a sua própria. O que resta são apenas algumas estruturas de prédios e muito, mas muito lixo.
Em meio a esse ambiente opaco e inóspito, o único "sobrevivente" é WALL-E, um robozinho desenvolvido especificamente para recolher certa quantidade de lixo, compactando o mesmo para empilhar e tentar dar fim. Porém, iguais a WALL-E existiam vários, e estes não deram conta do recado pifando com o passar do tempo. Agora, WALL-E, e sua única companhia, a barata Spot, mantém sua rotina metódica recolhendo o lixo, mesmo que seja nitidamente impossível obter algum resultado com seu trabalho solo. O mais incrível é ver a solidão que essa situação evoca e a empatia imediata que se sente pelo personagem.

Produzido pela Pixar, já era esperado um personagem com uma personalidade peculiar e bem desenvolvida. Pode-se dizer que nesse quesito o estúdio de animação atingiu seu ápice. Ainda não vi um personagem animado com tamanho encantamento como WALL-E.
Eu poderia ficar três horas seguidas vendo apenas aquele robozinho em sua atividade diária, descobrindo coisas sem mencionar um som. Ele incrivelmente consegue manter nossa atenção sem qualquer diálogo mesmo!

Analisando o filme num todo, o primeiro ato é o melhor. É inevitável não se apaixonar por um robozinho com características tão humanas, de tamanha sensibilidade e inocência.
O senso ingênuo e curioso de WALL-E motiva-o a fuçar todo aquele lixo meticulosamente, separando o que é descartável e o que é para ele interessante. Sua casa é recheada de tranqueiras humanas que não são tão relevadas por nós.

Outro fato intrigante sobre a personalidade desse personagem é sua dedicação em efetuar seu trabalho mesmo sem supervisão e recurso. Através de algumas cenas monólogas (ironicamente sem falas), compreendemos a essência pura desse robozinho; tudo sendo retratado de forma emocionante. E de quebra temos pitadas de um humor equilibrado à estória.

EVA, um robô enviado à terra para verificar se há algum resquício de organismo vivo no planeta, desperta paixão em WALL-E. Os momentos em que ela passa a corresponder a ele com simpatia são os mais lindos. Não tem outra expresão pra definir as cenas.
Ele sempre tentando tocar suas mãos, ou tentando impressioná-la com seus "dotes artísticos" de dançarino, aprendidos por meio de uma película antiga encontrada no lixo que ele assiste assiduamente em sua moradia, é envolvente. Um romance dígno de fazer inveja em qualquer história de amor. Simples, puro e intenso. Tudo bem conduzido sem ser piegas. Um feito, já que o filme é infantil.
Aliás, um trunfo do filme é trazer de forma indireta reflexões ao espectador adulto. Tantos questionamentos sociais e comportamentais; tanto pra se pensar em seus subtextos... Isso num filme destinado às crianças.

Como nem tudo é perfeito, o filme tem seus momentos ruíns. Após o brilhantismo inicial, somos apresentados a um grupo remanescente de humanos anatomicamente exagerados (leia-se gordos) no decorrer do filme. Eles vivem numa nave entitulada como Axion sob um estilo de vida acomodado à tecnologia de robôs que realizam trabalhos, por mais banais que sejam, em favor deles.
A nave Axion é a responsável por quebrar o silêncio do filme, mas nem por isso deixa de ser totalmente dispensável. Só apareceu para aborrecer o que estava dando certo. Por isso, repito: o personagem WALL-E é totalmente eficaz em segurar as pontas sozinho. No máximo com EVA coadjuvando. A tal nave só conseguiu interferir na perfeita animação do filme por não estarem à altura de tudo que foi mostrado.

"WALL-E" não é uma obra prima devido a inserção desnecessária dos humanos, mas emociona com as famosas lições de vida camufladas junto ao roteiro, tornando-se meu clássico pessoal.
A arte técnica, o gráfico, o áudio, os movimentos, a fotografia, tudo tão bem apresentado e elaborado que só envolvem mais ainda o público. Merecidamente concorrendo a seis categorias no Oscar este ano.

Filme "SEX AND THE CITY - O FILME"

O sucesso deste filme se dá basicamente por reviver personagens que fizeram a cabeça da mulherada nos EUA ao longo de seis temporadas num seriado bombástico (estou entrando no clima) por volta dos anos 90.
Intitulado como "Sex and the city", este ditou moda, levantou assuntos típicos do universo feminino sem pudor e pieguismo; foi marcado por suas personagens de atitudes ousadas, contribuidas também pelas tórridas cenas de sexo, além de seus temas variados e romances nada açucarados. E isso é só um vislumbre dos ingredientes que compunham a série.

No entanto, algo é certo em relação ao filme: o agrado do público só virá diante desta película, se os espectadores forem no mínimo fãs da extinta - e ainda vívida na memória - série. Quem não conhece a estória irá apenas se deparar com um filme recheado de esteriótipos, clichês, um roteiro balanceado pelo machismo em contrapartida ao feminismo, protagonizado por senhoras quarentonas super consumistas e extravagantes.

Eu particularmente, por ter como meu hobby favorito, acompanho séries de teor cômico, portanto, assisti várias vezes as aventuras das quatro amigas de "Sex and the city". Só que devido ao seu enfoque relativamente feminino, a série não me atraia muito. Às vezes os questionamentos soavam banais demais, o que era perfeito para atingir seu público especificamente formado por mulheres. Público este que consegue captar o mais profundo sentimento no mais profuso assunto.

Em sua adaptação como longa para o cinema, eu percebi que mesmo após o fim da série há quatro anos, Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Kristin Davis e Cynthia Nixon, continuam perfeitas em comporem seus personagens, mantendo intácta a química do quarteto (apesar da especulação de brigas entre o elenco na vida real).
Como eu conheço um pouco da história do seriado, pode-se dizer que o roteiro, sem deixar detalhes pendentes e com certa inspiração, parte exatamente de onde a série parou.

E não relevando toda a futilidade do universo novaiorquino delas, a maior decepção que tive foi ver que ao focarem a maturidade das personagens e as novas contestações pessoais que giram em torno do futuro, da felicidade plena, de um casamento onírico e blá, blá, blá... se desfigurou vagamente a personalidade das mesmas por elas não se aparentarem experientes como o esperado, e sim, envelhecidas e esgotadas.

Miranda (Cynthia Nixon) que era independente e não se subordinava a vontade masculina, agora mostra dificuldade de conciliar casamento, carreira e filho da forma mais comum possível.
Samantha (Kim Cattrall), uma ninfomaníaca incorrigível, agora fiel ao relacionamento, pacata, contentando-se com a companhia de um cachorro?!
O pior é ver que depois de seis anos e tantas colunas para um jornal, Carrie (Sarah Jessica Parker) não aprendeu nada sobre relacionamento, passando pelos mesmos conflitos com Big (Chris Noth).
Bom, ainda assim, ignorando esses pormenores, não posso negar que a atmosfera do filme se manteve fiel à serie.

Agora, um detalhe à parte aqui são os figurinos do filme, ou como prefiro classificar, a essência gritante do que há de mais excêntrico!
Os modelitos são super modernos sim, porém, de um mal gosto terrível! E por tal motivo, o glamour natural das personagens ficou comprometido.
E pra completar o quadro dos detalhes supérfluos, temos a presença desnecessária da ganhadora do oscar por "Dreamgirls" Jennifer Hudson, que nada fez no filme. Se pelo menos ela tivesse cantado, faria algum sentido sua escalação.
Falando em música, a trilha sonora varia de clássicos à sucessos atuais. Nada que demonstre má escalação, mas ficou confusa.

Sem mais, "Sex and the city - O filme", Como na série, tem Sarah Jessica Parker à frente da produção executiva e a direção por meio de Michael Patrick King. Sua duração é de 2h30, com algumas cenas engraçadas e um dramalhão mais apurado que na série, o que na verdade é um banquete para quem curtiu o seriado. Já para quem não o conhecia, infelizmente só restará a dúvida do porquê de tanto burburinho em torno de tal projeção.

Filme "PÂNICO"

Hoje os filmes do gênero terror/suspense estão utilizando recursos bem similares, com certeza fruto de algum filme específico que obteve sucesso de crítica e público. O que vem acontecendo repetidamente. É só um filme alcançar sucesso que logo temos uma legião de sutis (ou nem tanto) plágios cinematográficos.
Quando foi lançado o primeiro filme da trilogia "Pânico", não foi diferente. Era inevitável não notar quantos filmes com a temática "adolescentes perseguidos por serial killers" estavam sendo lançados no mercado. E poucos eram os que alcançavam certa originalidade, como "Eu sei o que vocês fizeram no verão passado". Inclusive, até os títulos dos filmes do gênero terror eram totalmente influenciados pelo termo "Pânico". Tudo se resumia à pânico, fosse em algum lugar ou por alguma coisa...

Dirigido por Wes Craven e escrito por Kevin Williamson, o filme ainda revitalizou o terror nos anos 90, utilizando um conceito que combinava cenas de puro suspense com diálogos que satirizavam os clichês dos filmes do gênero.

O longa em si não é nenhum marco, no entanto, tornou-se um clássico, baseando-se, é claro, na legião de fãs que gerou e na febre desencadeada entre os adolescentes, sem esquecer às ótimas críticas recebidas.
Ele não só inspirou vários títulos do terror na época com histórias semelhantes, como deu início a era dos filmes besteirol que exaustivamente o parodiavam entre outros sucessos.

Neve Campbel, a atriz mocinha da trilogia, praticamente deve sua carreira à "Pânico", carreira esta que se limitou a saga. Ela virou musateen na época e chegou a ser indicada ao "MTV Movie Awards" três vezes por seu papel como a protagonista Sidney Prescott. Ganhou na segunda indicação em 1998.

Após isso, não teve nenhum papel expressivo, mas ela teve com certeza seus 15 minutos de fama bem aproveitados.
Parece que o diretor e roteirista do filme Wes Craven também não conseguiu emplacar mais nenhum sucesso como "Pânico". Até mesmo o nível de seus roteiros e temas cairam. Talvez seja o "carma" a se levar após dar vida a um grande sucesso.

Quanto à sinopse, esta se passa numa pequena e pacata cidade no interior do estado da Califórnia, onde um Serial Killer, fanático por filmes de terror, está assassinando brutalmente todos os jovens da cidade. Seu método é peculiar: primeiro ele liga para sua vitima e faz perguntas sobre filmes de terror; se a mesma errar, ele a mata com facadas. O problema é que ninguém sabe quem pode ser o assassino, já que ele usa uma máscara específica de fantasma.
E por tal, a obsessão do assassino concentra-se em uma jovem chamada Sidney Prescott (Campbel) por algum motivo de seu passado que envolve também sua mãe.

Bom, o filme seguindo essa premissa, conseguiu duas sequências não tão criativas como o original por utilizar basicamente a mesma fórmula nos três, mas independente disso, foi um sucesso tremendo. Talvez o filme de horror mais comentado em sua época.
E mesmo sem tanto "banho de sangue" ou um enredo psicológico, "Pânico" conseguiu deixar seu rastro e marcar uma geração.

Filme " A PAIXÃO DE CRISTO"

Mesmo sendo um cristão convicto, tentarei ser o mais equitativo possível em meu comentário. Não será fácil desvincular minha visão cristã do produto como secular, mas me esforçarei.
Antes de mais nada, o impacto que o filme causou no "mundo religioso", e todos os questionamentos e polêmica levantados, tiveram apenas um objetivo: dar lucro a película dirigida, produzida e co-roteirizada pelo católico Mel Gibson. O filme que arrecadou "horrores" de dólares, entrando para a categoria dos filmes mais vistos, conseguiu causar um frissom entre o público.Tudo isso por abordar um assunto que envolve uma crença quase universal: a crucifixão do Deus encarnado, Jesus.

Gibson, retratou as 12 últimas horas de Jesus antes de ser crucificado, ou seja, é o relato dos momentos mais tensos de Cristo. O espancamento; o julgamento; a agonia; a vergonha... tudo que culminou em sua morte e ressurreição.
O tema em si é forte e objetável por envolver religião. Ainda mais quando o diretor decidiu ser o mais verossímil possível.
Acredito que Gibson, intencionalmente, resolveu utilizar de todos os artíficios possíveis para polemizar, fazendo do filme uma famigerada e controversa projeção.
Um diabo andrógino (ofença aos gays); sacerdotes fariseus super atuantes em incentivar o sacrifício (ofença aos semitas); algumas alusões de crença estritamente católica (ofença aos protestantes); e a violência explícita chocando o espectador de forma quase unânime. Território perigoso numa época em que tudo agride, ofende e soa como discriminatório (realidade do melindre em que vivemos hoje).

A base do filme são os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, apresentando Jesus no jardim do Getsêmani preparando-se para Sua missão dolorosa. Até então pouca novidade, a não ser o fato do filme começar exatamente no Getsêmani, excluindo todo o desenvolvimento da vida de Jesus que é praxe em filmes bíblicos.
As cenas de violência apresentadas chocam. Não é exatamente o filme mais intenso no tocante ao quesito "tortura", mas incomodou por ser em torno da figura religiosa mais propagada.
Eu acredito nas segundas intenções de Gibson ao produzir o filme, porém creio que imaginar um ritual de crucificação como um ato leve seria hipocrisia, conhecendo as barbaridades provocadas pela Roma antiga.

Como uma adaptação literária, Gibson tentou ser o mais fiel possível à Bíblia, expondo visualmente tudo que era descrito. Expressões no livro de Isaias (profeta messiânico) como "esmagado, moído e pisado" ficaram mais fáceis de compreender após ver o filme.
As chibatadas, a agonia, a transpiração em sangue, a dor, as perfurações nos pés e mãos, nada disso parece simples. Por isso, não vejo exagero por parte do diretor em mostrar tanta opressão.

As cenas de tortura protagonizadas pelos romanos, são quase insuportáveis de assistir. Realmente é tudo e mais um pouco do que a crítica da época antecipava. Mais o interessante é que dentro de seu contexto escriturístico não soa como violência gratuita. A veracidade com que vemos a carne de suas costas sendo dilaceradas, é incrível! O resultado da maquiagem que vemos no corpo do ator Jim Caviesel, um corpo mutilado, coberto por sangue, totalmente assustador!

Jim Caviezel não teve muita dificuldade em interpretar Jesus, imagino, já que sua maquiagem falava por si, e sua interpretação era nada mais nada menos que simular dor (muita dor!!). Entretanto, vi um belo trabalho dele em personificar tão bem a figura de Jesus. A aparência (pela imagem que a igreja criou) e a personalidade muito bem descritas.
O meu destaque vai para Maria, conduzida por Maia Morgenstern. Um show de expressão, minimalismo e dramaticidade. A Maria mais humana e mãe que já vi. Ela nos agoniza em suas cenas, conseguindo transmitir toda a dor da situação.

O roteiro mesmo seguindo o racíocio bíblico, tem suas peripécias típicas, incluindo pequenos fatos subjetivos de Gibson como, um urubu atacando um dos ladrões na cruz, ou um "demônio" assombrando Judas; crianças possuídas como figuras grotescas; Jesus brincando com a mãe; um diabo presente e escarneador, e etc... Mais nada que desfigurasse a história original.

Por fim, o filme analisado num conjunto é uma obra prima! A maquiagem; a explêndida fotografia; as atuações memoráveis, como da ótima Monica Belluci (Maria Madalena); a narração agonizante; os ângulos perfeitamente captados, assim como a constante utilização necessária de câmera lenta... A parte técnica é simplesmente elogiável. O filme - quase ofuscado por suas intenções óbvias de criar alvoroço barato - é simplesmente uma obra inestimável!
Repito, eu apenas questiono a intenção do diretor, atrevendo-me a dizer que não passa de um engodo. Contudo, não se pode negar que ele foi um gênio! Conseguiu fazer umas das mais bem sucedidas campanhas de publicidade em torno de um filme.

"A paixão de Cristo" é o filme religioso mais bem produzido dos últimos anos. Comove, revolta, alegra, emociona, assusta, e transmite a mensagem milenar do amor de Deus que, nunca é demais diante do mundo em que vivemos. Pontos para a arte e a bilheteria.

Filme "OS OUTROS"

"Os Outros", com certeza, foi um dos melhores filmes da carreira de Nicole Kidman. As produções das quais ela participa, nem sempre são sucesso de público, ou de temática que arrecadam milhões, mas sua atuação é um show à parte. Raramente vejo Nicole desconcertada com um personagem, e com esse não foi diferente.
Grace, sua personagem, é uma dona de casa áustera, firme e solitária, mãe de dois filhos que, vive num ambiente sombrio, quase que enclausurada em uma mansão escura, em meio aos anos 40 sob os efeitos da segunda guerra mundial, para onde foi seu marido convocado, até então sem dar notícias.

Apesar da inevitável comparação que sofreu com o clássico "O Sexto Sentido" de Shyamalan, e a indiferença da crítica na época, o filme consegue ser tenso, assustador e inovador. Por isso, particularmente, este é o meu filme preferido de Nicole.
Mesmo que o final venha a ter realmente uma semelhança com o inesperado desfecho do sucesso protagonizado por Bruce Willis e Halley J. Osment, o filme conseguiu causar a mesma sensação de imprevisibilidade.

O universo de "Os Outros" é tão lúgrube, escuro e pavoroso que, o espectador fica hipnotizado ao ver como Grace se mantém lúcida e racional ao deparar-se com "fenômenos paranormais" que a rodeiam e ameaçam seus filhos.
O filme não utiliza uma vez sequer artifícios comuns do gênero, como sangue, mortes ou mutilações. Limitado exatamente a narrativa de suspense, o filme é um tanto lento, mas nada cansativo. A atenção se volta à trama que, conseguiu carimbar uma das cenas mais assustadoras da história do cinema, como a da menina vestida de noiva, supostamente possuída por algo (vê-de a foto abaixo).

As crianças não são um primor de interpretação, mas quero frisar que a atriz mirim Alakina Mann (como "Anne"), conseguiu compor bem o seu papel. Os pequenos atores não foram meras crianças bonitinhas que estavam ali para protagonizar cenas melodramáticas descartáveis.

A escuridão foi utilizada na tonalidade certa. O ambiente gótico proporciona o desconforto com a situação. A dúvida e o medo presentes no olhar de Nicole, durante os acontecimentos, são imprescindíveis para o envolvimento do público.
A forma com que a história se desenrola, o clima asfixiante da casa que não pode ser aberta, nem ter exposição de luz devido a uma doença das crianças, e como tudo isso é resolvido no fim, é o que torna "Os Outros" um suspense de primeira. Nem sempre é necessário abusar de efeitos especiais e mortes explícitas para conseguir criar pavor no espectador.

Talvez se lançado numa época mais distante de "O Sexto Sentido", o filme teria conseguido mais reconhecimento, o que seria mais justo, pois se todos os filmes que se inspiram em algum sucesso fossem desse nível, só teríamos a agradecer.

Utilizar-se de um recurso que deu resultado e explorá-lo sob outra ótica, atingindo originalidade tanto quanto, é um feito que somente "Os Outros" conseguiu, e com tanta classe.

Filme "MARLEY E EU"

Eu diria que o filme já vale à pena por conter a presença de Jennifer Aniston (efeito de meu vício pelo saudoso "Friends").
Confesso que ao ler o livro que inspirou o filme - sucesso editorial mundial - , senti que alguns pontos do mesmo poderiam ter sido compactados, devido a extensa narrativa em momentos banais, que quase prejudicam o brilho da conturbada e dinâmica vida do charmoso Marley. Então, veio o filme para sintetizar o que era necessário.
Focando não só o cachorro e suas peripécias, "Marley & Eu" consegue, de forma criativa e simples, apresentar os conflitos de Jenny e John Grogan.

Filmes de cachorros geralmente possuem roteiros irrisórios, que apelam para sentimentalismo barato, conseguindo fazer com que todos sejam igualmente descartáveis... até agora.
O filme conseguiu alcançar um patamar, até então, "virgem" no gênero, que é ter conteúdo.
David Frankel como diretor, sabiamente optou por ser fiel ao texto do livro, sendo que a literatura que inspirou o filme, na verdade, não é ficção.
Com pouca ousadia e algumas mudanças quase imperceptíveis, Frankel consegue transmitir com beleza a intensidade da relação entre si da família Grogan. O que se deve a sua experiência em adaptar "best sellers" em produções cinematográficas, como "O Diabo veste Prada".

O cão labrador que "interpreta" Marley é a atração principal, não por apenas ser parte do título, mas por parecer realmente atuar. As tomadas com o personagem canino são encantadoras - destaque para os momentos finais. Graças ao excelente trabalho de adestramento coordenado por Mark Forbes.

Jennifer e Owen Wilson ("Penetras bom de bico"), não decepcionam. Acredito até que, devido ao resultado final, ou seja, o filme pronto, não conseguiria pensar em atores mais propícios para vivenciar os personagens. A imagem bela e meiga de Jenny é bem representada por Jennifer Aniston; quanto a Owen (que nem sempre acerta), fica confortável no papel de John.
O roteiro em si, não exige muito deles; por este motivo, as atuações aqui são merecedoras de elogios, exatamente porque em meio ao comum, eles conseguiram emocionar o espectador.
Owen Wilson ainda é figurinha fácil no gênero comédia, apesar de não ser exatamente bom, entretanto, nesse filme de contexto familiar, que ao desenrolar pende para o drama, ele se mantém no ritmo.

Jennifer Aniston, ainda lutando para estabilizar seu lugarzinho em Hollywood, consegue apresentar um personagem convincente. De longe as cenas mais emocionantes estão relacionadas a ela, exceto a cena de Owen com Marley nos momentos finais sob a mesa do centro veterinário.

Após assistir o filme, eu senti falta das "importantes lições" que o casal aprende com Marley. Questão que fica mais evidente e objetiva no livro.
Aqui pode-se ver um drama que aborda maturidade, responsabilidades, sonhos, frustrações, porém, a participação de Marley quase se limita a coadjuvância visual.
De alguma forma, através das colunas escritas pelo personagem de Owen, terceiros apontam as mudanças que Marley causou na vida do mesmo, mas faltou mostrar de forma mais contundente e expressiva a importância do cachorro nas decisões do dono. Ponto negativo no explorar demais os conflitos "existenciais" do casal Grogan. Fato que não prejudica a película, mas compromete um pouco.

As cenas finais, mesmo que previsíveis, conseguem transpassar toda a emoção que o próprio livro rende, evitando assim que o público fique indirente diante de uma situação tão verossímil.
Ainda que não livre dos clichês típicos do gênero, o filme é também superior a mesmice, portanto, o recomendo como uma ótima diversão para toda a família, e com certeza, uma inspiração para todos os amantes de cães.

Filme "FIM DOS TEMPOS"

As atenções da crítica e da mídia em relação aos filmes de Shyamalan, se desdobraram com o tempo, sempre esperando outro sucesso com uma estória inesperada e criativa como em seu bombástico “O sexto sentido”.
Eu, particularmente, não curto muito as películas dele. Não tenho paciência nem sensibilidade suficiente para me contentar em interpretar suas entrelinhas.
Seus ótimos roteiros (não nego) se perdem por faltar agilidade em sua composição. Inclusive, perdem mais por limitar tanto o que visualmente devia-se mostrar. Está certo que é uma peculiaridade do diretor, mas não me atrai.

O último feito de Shyamalan chama-se "Fim dos Tempos", protagonizado pelo sem sal Mark Walberg ( "Max Payne") e a novata e atualmente requisitada Zooey Deschanel ("Sim senhor!").
Como eu já esperava, tratando-se de uma película de Shyamalan, o filme é lento e com poucos recursos visuais para assustar. Destaco isso por tratar-se de um filme classificado como suspense.
Apenas diálogos não são suficientes para substituir a ação de um filme como insiste o diretor indiano. Ainda mais nesse longa em que apresentou seus diálogos mais fracos.
Porém, de todos os seus filmes ( com exceção de “O sexto sentido”), esse conseguiu ser o mais ousado. Tem mais ritmo, mais mortes e mais cenas violentas. Nada em excesso, mas o suficiente para não se restringir à narrativa monótona e extensa como em "A Dama na Água" e "O Corpo Fechado".

O filme aborda uma súbita crise mundial invisível que está atingindo mortalmente as pessoas.
A especulação na mídia, no governo, volta-se a um possível ataque terrorista, com um vírus que controla e induz as pessoas a se matarem.
As evacuações nas cidades dos EUA iniciam após o agravamento da situação. Sem saberem ao exato para onde irão, Elliot (Walberg) e Alma (Deschanel), um casal em crise conjugal, foge esperando achar um lugar seguro, acompanhado de Jess, uma garotinha de 8 anos, filha de um amigo que os acompanhavam. Esse amigo, Julian, que tomou outra rota para procurar a esposa que está em uma localidade possivelmente já atingida pela crise viral, pressentia o pior ao buscar a amada, por isso deixou a filha sobre a guarda de pessoas confiáveis.

Aos poucos os personagens centrais começam a crer que as possíveis mortes estão sendo induzidas pela natureza que, os reconhece como uma ameaça e os "infecta" através do vento. Evidências não faltam para que passem a cogitar essa idéia.
O importante é que mesmo sendo a razão mais provável, a tese da natureza e seu comportamento inóspito, em nenhum momento é ratificada pelo roteiro. Com essa interrogação, fica mais intrigante o “acontecimento”. Os protagonistas até ficam a mercê da ventania e nada acontece. Ainda assim, senti falta de ver uma razão concreta para os suicídios "voluntários" em massa.

A tensão toma conta da trama de forma equilibrada e progressiva. Quanto aos efeitos especiais, estão bem verossímeis. E a fotografia é a maior responsável pela beleza do filme.
Algumas das cenas em que presenciamos os suicídios - os da construção civil e os do engarrafamento, por exemplo - foram captadas sob um eficiente ângulo, privilegiando o espectador, em que transmite toda a gravidade e iminência do momento. Porém, a morte dos dois jovens que acompanhou o casal por algumas horas, sob a circunstância distinta em que aconteceu, foi desnecessária e sensacionalista.

O suspense aqui é mesclado com um leve drama romantizado entre Mark e Zooey que, apesar de duvidosos pra mim como atores, possuem certa química no filme.
Falando em interpretação, estranhei as atuações; não estão tão estruturadas como costumamos ver em filmes de Shyamalan.
Zooey, apesar de conseguir transmitir só meias emoções, consegue levar o papel numa boa, mas Mark parece ficar desconcertado quando não está com uma arma na mão. Suas feições são cômicas ao tentar transpassar desespero (destaque para uma cena de close dele em pleno ataque de pânico).

Após ver Bruce Willis e Mel Gibson, dirigidos por Shyamalan, Mark foi uma decepção! Até as cenas mais risíveis ficaram pra ele como, a de conversar com um vaso de plantas artificial.
Por incrível que pareça, John Leguizamo (o eterno Peste da Sessão da Tarde) que eu considerava canastrão, conseguiu me convencer com seu personagem mais do que qualquer outro nesta projeção.
Ashlyn Sanchez (tão fofa em "Crash - No limite") é descartável aqui. Como é praxe a presença de crianças em filmes do gênero, parece que à qualquer custo a garotinha chorosa tinha que estar presente, independente de sua importância no enredo.

Bom, é isso... o filme entrete, segura a atenção do espectador, é interessante, mas não o suficiente para quem o dirigiu, por isso não se pode classificar como seu novo marco.
Entretanto, concluo que, mesmo sem o típico final apoteótico de Shyamalan, o filme é bom, e agradará mais se for assistido sem expectativa.

Filme "ENTRANDO NUMA FRIA"

"Entrando numa fria" pode ser considerada a versão cômica do belo "À procura da felicidade" de Will Smith, no quesito "protagonista azarado".
Ben Stiller é um dos poucos atores estritamente cômicos toleráveis da atualidade. Isso porque ele extrai seu humor da situação do personagem e não de caretas e trejeitos exagerados, recursos eternizados por Jim Carrey e muito usados também por Rob Schneider.

Essa comédia conta com uma estória não tão nova, mas bem explorada. A química que há entre Robert de Niro e Ben Stiller é perfeita. Robert que é sogro de Stiller nesse longa, o aterroriza o filme inteiro. Tudo num fim de semana em família. O que dá início a uma série de confusões em torno de Greg, personagem de Ben, que tenta se socializar com o sogro exigente e de postura rígida, para convencê-lo como genro ideal.
As atuações estão boas, até mesmo a de Ben Stiller, que sempre soou pra mim um pouco canastrão.

Robert de Niro provou ter uma veia cômica, mesmo não esboçando sorrisos. Ele ficou totalmente adequado ao perfil de pai super protetor.
Algumas situações chegam a irritar em seu desfecho, pois Greg se envolve num emaranhado tão extenso de problemas, com tentativas frustradas de agradar e apresentar uma boa imagem, que é inevitável não rir de tudo que é mostrado.

O roteiro adaptado da comédia "Meet the Parents" de 1992, escrita e dirigida por Greg Glienna, em parceria com Mary Ruth Clarke, não é uma genialidade à parte, mas com certeza é uma das comédias mais bem sucedidas na tentativa de entreter.



Seu humor é escrachado (mas não sujo), conciliado à piadas inteligentes que fazem desse longa o melhor filme cômico na época em que foi lançado (ano 2000). Pra mim, o melhor de Ben Stiller também, seguido de sua melhor interpretação. Ele está à vontade e super convincente no papel.

A direção por conta de Jay Roach (de "Austin Powers"), consegue manter um clima uniforme ao filme que, em nenhum momento desanda.
Os clichês do filme não são impecílios aqui. Até funcionam. E o final do filme não é apoteótico, nem imprevisivel, mas é o mais esperado pelo público que quer vê-lo se saindo bem e continuando com sua amada, bem conduzida por Teri Polo.

É um tipo de comédia que funciona pra toda família. Sem palavrões, sexo e exageros (filme do gênero que se abstem disso hoje, está escasso), o filme mostra que pra ser divertido, não precisa ser apelativo.

Filme "GUERRA DOS MUNDOS"

Longe de fazer qualquer comparação com o veterano "A guerra dos mundos" de 1953 - pois se assim o fizesse seria injustiça, devido ao espaço de tempo entre as obras - , o remake de Steven Spielberg apresentou um dos mais empolgantes filmes de ficção cientifíca dos últimos anos.
Há um certo favoritismo de minha parte em relação a esta película, exatamente por eu ser um admirador convícto do trabalho de Spielberg, creditado por causa do espetacular "Jurassik Park".

"Guerra dos mundos" é um filme impetuoso. A ação está constantemente presente, quase em rítmo de thriller.
A tensão é infiltrada aos poucos; os efeitos especiais, ainda que em algumas cenas se mostrem confusos, são notáveis. Sem falar nas precisas atuações que só temperam a trama.
Já o roteiro, na verdade, não é um exemplo de criatividade, assim como o tema não é inovador - invasão de alienígenas - , contudo, como um representante do gênero ficção, ele funciona e muito bem. Mesmo havendo alguns furos (salientarei pelo menos um logo mais), o filme cumpre seu papel como mais uma obra de Spielberg.

Ao contrário do sucesso "Independence Day", o blockbuster "Guerra dos mundos" não concentra seus ataques extraterrestres somente nos EUA. Desta vez, os americanos não são colocados como centro do universo, ou o único objetivo dos aliens. Ótima sacada quanto a este fato.

O filme capta também vários pontos antes ignorados em filmes sobre ETs: o foco na dor e no desespero das pessoas.
Nesta trama foram bem destacadas, e conseguimos ver de forma mais provável como seria a reação dos seres humanos ao serem atacados por criaturas de outro planeta. A curiosidade inicial das pessoas, o pânico em seguida, tudo retratado de forma bem convincente e real.

Acredito que os momentos iniciais do filme, em que se concetra todo o suspense em torno do que está por vir, é a parte mais atrativa do filme. O espectador fica vidrado no que está ocorrendo.
Raios caindo aos montes, tudo que é objeto elétrico deixando seu funcionamento normal, até o momento em que vemos o chão da cidade sendo rachado de forma violenta e inesperada, sem qualquer explicação. Então surge a primeira "nave" incinerando tudo que é pessoa com seus raios. Super envolvente!

O mais interessante é que em meio a tantos efeitos visuais e um rítmo acelerado, o clima sombrio toma conta da estória, não sintetizando o script em simples cenas de ação.
Quem agradece por tudo é a fotografia, que está magistral com seu ar obscuro.

No elenco temos Tom Cruise, que está sólido em seu papel, estrelando como o personagem Ray.
Elogiável a sua atuação segura e bem conduzida aqui. A melhor parceira entre Spielberg (direção) e Cruise (protagonista), com certeza!
Agora quem realmente rouba a cena como a neurótica e histérica garotinha Rachel, é o talento nato, Dakota Fanning. Ela que já provou sua versatilidade, aventurando-se entre tantos gêneros, como suspense, ação, infantil, drama e comédia romântica, agora prova que a euforia que envolve ficções científicas não a impediram de brilhar mais uma vez. Pra mim, a melhor atriz mirim da atualidade.

Tim Robbins faz uma ponta no longa, rápida, mas memorável. O único que tirou o brilho do filme, não deixando que o mesmo fosse unânime no quesito atuação, foi o rostinho bonito (e nada mais que isso) Justin Chatwin, interpretando Robbie, o filho mais velho de Ray.
Com uma atuação indiferente, ele consegue manter a mesma feição o filme todo, quase como o insosso Steven Seagal.

O conflito familiar que existe entre o protagonista Ray, e seus filhos, Rachel e o adolescente Robbie, dá lugar também ao drama, sem cair no caricato, porém, não escapa do clichê.

Bom, como nem tudo é perfeito, um dos erros mais grotescos do filme se dá em seu desfecho. Como disse que iria citar, a maior falha do filme foi subestimar a inteligência da platéia. Por exemplo, ao mostrar as investidas dos extraterrestres contra à terra, que pareciam indestrutíveis com seus terríveis Tripods (suas naves gigantes em forma de tripés ), culminou-se no insucesso, exatamente porque as tais criaturas, que estiveram há anos escondidas no subsolo estudando o comportamento humano, não tiveram a capacidade de detectar o perigo em nossa água e em nosso oxigênio, ambos letais à sua sobrevivência.

Portanto, devido a furos amadores como este acima, o filme "quase obra-prima", cai na própria armadilha de sua finalização preguiçosa, ficando marcado apenas como uma mega produção-pipoca, não sendo nada mais que uma ótima pedida comercial para as horas de folga.
No mais, recomendo pelo entretenimento garantido. O que é indiscutível.

Filme "ELA É O CARA"

Existem três aspirantes à atrizes teens na atualidade que eu gostaria de destacar por possuírem um público cativo: Hillary Duff (que também insiste como cantora), Amanda Bynes, e a agora não mais escalada para filmes juvenis - por sua vida conturbada e recheada de escândalos - , Lindsay Lohan.
O que as três têm em comum, além de uma legião de fãs adolescentes? Seus filmes fracos e ingênuos.

Voltando a atenção à Amanda Bynes, por ser a protagonista deste folhetim cômico que tem como título "Ela é o cara" (She's the Man), vale destacar que de todas essas musas teens citadas e que se aventuram no mundo do cinema, Amanda Bynes é a única de quem se pode extrair alguma coisa quanto à atuação.
Calma lá! Não estou dizendo que ela é uma boa atriz, nem sequer a qualifiquei como tal. Ela é simplesmente uma estrela adolescente. Porém, diferente de suas "rivais", ela é esforçada e naturalmente carismática.
















A primeira vez que vi Amanda foi num seriado que passava no SBT em 2002, "What I Like About You". Suas caretas constantes e ar de moleca já eram notáveis nessa comédia pastelão.
Quanto a sua filmografia, esta é curta, entretanto, seus filmes têm tornado-se mais constantes. Ela parece hoje tomar o espaço que Lohan deixou, já ameaçando o de Hillary Duff.
Até participar de um filme de maior expressão hollywodiana ao lado de grandes nomes no famigerado musical "Hairspray", ela conseguiu.

No entanto, "Ela é o cara" foi o filme de maior sucesso em sua carreira. Mas a má notícia é que nem assim ele escapou de ser uma película de roteiro risível, com atuações caricatas.
Como dito, o roteiro é degastado, sem criatividade, infestado de clichês baratos e a trama um tanto surreal - ideia reforçada graças à caracterização horrível de Amanda como rapaz, com certeza proposital para estimular os risos.
Os diálogos também são rasos tanto quanto a performance amadora do elenco.
E para incrementar, como par romântico de Amanda, temos Channing Tatum ("Ela dança, eu danço") comprovando que como ator, ele é um bom dançarino - o termo é batido, mas se tratando de quem é, está de bom tamanho.

Sendo assim, estamos nitidamente diante de mais uma típica comédia americana que apela algumas vezes para tombos, tropeções e feições faciais forçadas para implorar algumas risadas. Tudo isso em situações exageradas e irreais, acompanhadas de personagens esteriotipados, complementada por um adocicado casal previsível e sem química.
Agora, para que fiquem pasmos, mesmo com tantos pontos negativos, a diversão proporcionada pelo filme não é de todo afetada.
Afirmo que mesmo não sendo nada criativo, nem original, o filme não merece ser de todo descartado, tudo porque em alguns momentos ele diverte bastante com sua leveza e simploriedade. E isso tudo se deve exclusivamente à performance de Amanda, afinal, foi aqui a sua representação mais burlesca, com direito as suas excessivas e peculiares momices.
E não estou citando isso como algo negativo... Viola, sua personagem, tem um "Q" de charme, e de quebra, entrete, justamente por seu comportamento incomum.

Concluindo, sem sombras de dúvida, "Ela é o cara" é de longe a campeã no gênero comédia besteirol sem noção, mas como eu disse anteriormente, ainda assim garante uma boa diversão no melhor estilo "pipoca", podendo ser até elogiado pela falta de apelações sexuais em sua trama - o que não é comum em comédias de temática jovem.

Filme "CRASH - NO LIMITE"

"Crash - No limite" é um longa sem perfil de "grande produção", com um custo baixo para um ganhador do Oscar de melhor filme, por isso, foi a grande surpresa de Hollywood em 2005 ao levar a tão sonhada estatueta.
A tal projeção tem como roteiro um emaranhado de núcleos, em que cada personagem vivencia em seu “mundo”, frustrações que são laçadas por um mesmo efeito: o preconceito.
Há pessoas que digam estar o tema fora de moda, já eu acredito que em nossa realidade o racismo é latente. Por esta premissa, "Crash" torna-se desde sempre obrigatório.

Paul Haggis - roteirista do também oscarizado "Menina de Ouro" - como primeira impressão, parece querer explorar a proximidade entre a diversidade, mostrando que independente das diferenças (seja em que âmbito for), somos todos habitantes de um mesmo mundo, o que é óbvio, mas nem sempre lembrado.
Os argumentos poderiam ser ainda mais profundos diante de um tema tão presente. Mas podemos ressaltar méritos quanto ao decorrer do filme: seu desenvolvimento realista, gradual e imparcial - não há lado defendido no filme.

Dentro da proposta de Haggis, os clichês presentes não danificam o filme. Seria muito complexo não usar alguns artifícios conhecidos, já que a intenção do filme é apresentar uma estória abrangente.
Ao tentar englobar distintas culturas e conceitos, sem destacar um personagem em si, o roteiro poderia correr o risco de cair no descaso, trazendo uma estória monótona e desinteressante, porém ocorreu o contrário, resultando em uma trama envolvente, acompanhada de desfechos imprevisíveis para cada personagem, graças a forma com que foi conduzida.

Acredito que o maior feito de "Crash" foi abordar o preconceito como um sentimento presente em todos os lados. Negros e brancos, ricos e pobres... O filme conseguiu expressar as concepções que cada um tem de seu espaço. O que nem sempre é pela circunstância desfavorável, mas por escolha própria.

Parece piegas falar de sentimentos como “paz” e “amor”, mas "Crash" sem mencioná-los consegue mostrar como a falta desses recursos básicos resultam em intolerância, ódio, individualidade e medo. E só contribuímos para o agravamento da situação.
É assustadora a forma com que os enredos apresentam uma falta de solução para os problemas sociais. E nesta constatação fica claro que nossa permissão é a pior inimiga.

Quanto ao elenco, temos Thandie Newton que nunca havia feito um papel que exigisse tanto de sua atuação. Ela, mesmo não recebendo - como todos aqui - qualquer destaque na trama, consegue ser marcante, incorporando um dos personagens mais densos na estória, nivelado ao de Matt Dillon.
As interpretações são um atrativo à parte. Cada personagem tem seu momento.
Sandra Bullock, conseguindo, por sua vez, apresentar algo convincente e sério, e não somente beleza e carisma. Brendan Fraser, diga-se de passagem, me surpreendeu (difícil não vê-lo eternizado como o desmiolado "George - o rei da floresta"). Don Cheadle, mas uma vez ótimo. Somente Ryan Phillippe que tentou, mas não escapou da canastrice. Ainda falta um pouco para provar que pode oferecer mais que um rosto.
Emocionante, verossímil, ousado, impactante e melancólico. Um apanhado mais que justo desta película que mereceu seu prêmio com louvor.
Um filme intenso que merece ser visto e avaliado subjetivamente, para que o espectador tenha uma idéia mais convicta de seus conceitos e ações.

Pelos críticos chegou a ser comparado com a obra-prima “Magnólia”, porém, não alcança exatamente o nível do filme de Paul Thomas Anderson por soar mais comercial. Mesmo assim, “Crash” é um filme inteligente e intimista que consegue o feito de atingir o público sem colocar em risco a arte.

Filme "COLEGIAIS EM APUROS"

Esse filme é um amontoado de todos os recursos exaustivamente explorados no gênero, e por sinal, todos de mau gosto.
Analisando a premissa, mais uma vez temos um trio jovem masculino com personalidades estereotipadas - um gordo metido de boca suja, um certinho curioso e um "nerd" no mais puro sentido do termo - que desfrutam de uma amizade colegial e a incessante vontade idônea de irem a um lugar onde sexo e bebidas rolam sem pudores: a faculdade.

Como estudantes ainda do ensino médio, eles optam por conhecerem sua futura faculdade num fim de semana, embanhados pela esperança, divulgada por um outro amigo que experimentou, de serem recepcionados por um "paraíso" de peitos, sexo, festas e tudo que há de carnal... muito inovador por sinal (sinta a ironia).

Com cara de paródia de "Super Bad", o filme é simplesmente um enredo repetido; nada há de novo, nada a acrescentar, nada diverte... e com o passar dos anos isso só tende a piorar.
Na verdade, "Colegiais em apuros" é simplesmente um dos filmes à la "American Pie" menos engraçados que já vi. O máximo que encontramos são cenas avulsas, com muita apelação sexual.
E não é só nas bebidas que os personagens excedem, mas também na falta de originalidade. Só tem cenas constrangedoras (inclusive para os atores) e piadas escatológicas que abusam de elementos como porcos e cocô.
E pra piorar, ainda tem uma "cerimônia" que se consistia em ingerirem bebida alcoólica sobre o corpo de um cara peludo e nu.














Prosseguindo, os três tentam se "arranjar" com as garotas, até que o personagem , digamos, mais pudico do trio, conhece uma menina tão convencional quanto ele. Ela, inclusive, tem direito a uma entrada em câmera lenta quando os dois se conhecem (aff). Mais clichê, impossível!
A idéia de que tudo dá errado para os meninos, com direito a uns carinhas playboys meio sádicos que se deliciam ao aprontarem com eles, guinando para a reviravolta dos três patet... quero dizer, amigos, vingando-se da forma mais previsível possível, é só um feito nada inventivo, que é apresentado como se o roteiro banal recheado de diálogos rasos não fossem relevados pelo público.
Está certo que adolescentes não são tão exigentes quanto a temática (afinal tem peitos e bebidas), mas o resultado requentado deste longa subestima demais a inteligência.

A impressão que fica é que falar do universo teen no ramo cinematográfico não tem muito ecletismo. Coloque mulheres peladas, caras sarados, música rock e bebida... pronto! Temos um filme!
Superficialidade, futilidade, irracionalidade e conceitos distorcidos, são o que compõem a imagem divulgada dos adolescentes no cinema. Agora basta saber se nesse caso a arte imita a vida, ou se ela influencia - em qualquer um dos casos, a questão é controversa.

Com isso eu concluo que o único filme do gênero que apresentou alguma novidade (em sua época), conseguindo ser um pouco engraçado, foi "American Pie", o que teria sido de bom tamanho ter se limitado ao original, sem suas incessantes continuações e sucessores que teimam em aparecer, mesmo que não haja mais um público tão cativo.