29 setembro 2009

Filme "A TROCA"

Eu hesitei bastante em assistir "A troca" por não me identificar muito com filmes dramáticos, apesar de serem neles que se presencia, na maioria das vezes, as melhores atuações.
Num sábado à noite sem muito o que fazer, resolvi assistí-lo. E não me arrependi... tanto.

Eu não conheço muito a carreira de Clint Eastwood, talvez por protagonizar e dirigir filmes de gênero não tão atrativos a meu ver, mas confesso que ao assistir este longa, as comparações com o também dirigido por Clint, "Sobre meninos e lobos", foram instantâneas. Desde a temática similar - rapto infantil - até a criação classicista das cenas.

O roteiro se baseia em um caso real ocorrido entre 1928 e 1930. A personagem central Christine Collins, vivida pela bela Angelina Jolie (não tão bela aqui), sai para trabalhar e deixa o filho Walter em casa com um babá. Na volta não o encontra mais.
Ao recorrer à policia, eles restituem à ela uma criança presumindo ser a dela, o que não é. E mesmo ela mantendo-se relutante, o oficial responsável insiste na idéia de que encontraram a criança desaparecida.
A partir dessa premissa inicia-se uma história longa, fria e angustiante.

Angelina Jolie sempre foi reconhecida por seus lábios acentuados e insinuantes. Dona de uma beleza invejável e de uma postura incisiva no cinema, ela se apresenta aqui como uma dócil, frágil e recatada mulher, sem a beleza que lhe marcou durante sua carreira.
Apesar de eu não ter achado o filme emocionalmente definido, a atuação de Jolie foi pra mim enternecedora. Seus gestos, seu semblante, tudo muito bem representado e adequado à época. Mesmo não sendo uma tarefa fácil vê-la assim tão ingênua e contida.
Sua personagem, debilmente inocente com relação ao que lhe rodeia, sofre abusivamente pelas circunstâncias que lhes são impostas devido ao acontecimento com seu filho: ter de lutar contra a polícia de Los Angeles, para provar o erro deles na busca pelo menino, e simultaneamente tentar reaver o mesmo.

Por ser uma história real, é possível se sentir incomodado com tudo o que acontece com Christine. injustiçada inúmeras vezes, o seu culmine é o sanatório. Graças a ajuda do Reverendo Gustav Briegleb (feito habilmente por John Malkovich), um homem implacável em denunciar a intransigência e a corrupção da corporação de polícia de Los Angeles, Christine é ouvida e notada por toda a cidade, criando um alvoroço que ela jamais imaginará ou talvez quisera.

Em meio à seca dramaticidade, o filme envolve o espectador no início do filme, o problema é que Clint prolonga demais o video inserindo à história o julgamento do caso, detalhando cada ponto, tornando o longa menos empático. Principalmente por seu desfecho não ser o típico "final feliz".
É exatamente nesse momento que o filme tira o foco do sofrimento da mocinha, e tenta expurgar todos os erros acometidos à ela, apresentando a idéia de que a corrupção não está nas instituições, mas naqueles que as compõem, frisando as acusações, a investigação e a conclusão do caso. E assim, torna-o extremamente cansativo nos momentos finais (e quantos tiveram!).

Enfim, só posso dizer que "A troca" não é o filme que eu esperava. É mais inquietante do que emocionante. Em muitos momentos é sombrio, desviando-se mais para o suspense do que para o melodrama. E muitos pontos são exgerados e duvidosos (como o reverendo chegando na clínica na hora em que a personagem seria punida com choques em sua cabeça, evitando que assim o fizessem).

Mas o que mais me fez questionar o filme (e não o acontecimento em si) foi que a babá do filho de Christine nunca foi interrogada, como destacou muito bem um cinéfilo que admiro ao também resenhar sobre o filme em seu blog.
Então, para concluir, eu recomendo o filme, mas tenho a certeza de que qualquer um que vier assistí-lo distinguirá o excesso e a tibieza que Clint teve com uma tão comovente história.