30 junho 2009

Filme "WALL-E"

Eu confesso que resisti muito em ver "WALL-E", mesmo tendo ele críticas positivas. A causa era por saber antecipadamente que nos primeiros momentos do filme não havia diálogo algum.
Estava quase convicto que seria um filme bobo, com apelo apenas visual.
Pensei: o que um robozinho que quase não emite sons teria de interessante?
Após vê-lo só digo uma coisa, tratando-se de WALL-E, tudo é interessante! Mesmo com sua fala quase restrita em pronunciar seu próprio nome.

O enredo do filme é sobre um futuro pós-apocalíptico, onde os humanos conseguiram destruir tudo que tinha vida na terra, inclusive a sua própria. O que resta são apenas algumas estruturas de prédios e muito, mas muito lixo.
Em meio a esse ambiente opaco e inóspito, o único "sobrevivente" é WALL-E, um robozinho desenvolvido especificamente para recolher certa quantidade de lixo, compactando o mesmo para empilhar e tentar dar fim. Porém, iguais a WALL-E existiam vários, e estes não deram conta do recado pifando com o passar do tempo. Agora, WALL-E, e sua única companhia, a barata Spot, mantém sua rotina metódica recolhendo o lixo, mesmo que seja nitidamente impossível obter algum resultado com seu trabalho solo. O mais incrível é ver a solidão que essa situação evoca e a empatia imediata que se sente pelo personagem.

Produzido pela Pixar, já era esperado um personagem com uma personalidade peculiar e bem desenvolvida. Pode-se dizer que nesse quesito o estúdio de animação atingiu seu ápice. Ainda não vi um personagem animado com tamanho encantamento como WALL-E.
Eu poderia ficar três horas seguidas vendo apenas aquele robozinho em sua atividade diária, descobrindo coisas sem mencionar um som. Ele incrivelmente consegue manter nossa atenção sem qualquer diálogo mesmo!

Analisando o filme num todo, o primeiro ato é o melhor. É inevitável não se apaixonar por um robozinho com características tão humanas, de tamanha sensibilidade e inocência.
O senso ingênuo e curioso de WALL-E motiva-o a fuçar todo aquele lixo meticulosamente, separando o que é descartável e o que é para ele interessante. Sua casa é recheada de tranqueiras humanas que não são tão relevadas por nós.

Outro fato intrigante sobre a personalidade desse personagem é sua dedicação em efetuar seu trabalho mesmo sem supervisão e recurso. Através de algumas cenas monólogas (ironicamente sem falas), compreendemos a essência pura desse robozinho; tudo sendo retratado de forma emocionante. E de quebra temos pitadas de um humor equilibrado à estória.

EVA, um robô enviado à terra para verificar se há algum resquício de organismo vivo no planeta, desperta paixão em WALL-E. Os momentos em que ela passa a corresponder a ele com simpatia são os mais lindos. Não tem outra expresão pra definir as cenas.
Ele sempre tentando tocar suas mãos, ou tentando impressioná-la com seus "dotes artísticos" de dançarino, aprendidos por meio de uma película antiga encontrada no lixo que ele assiste assiduamente em sua moradia, é envolvente. Um romance dígno de fazer inveja em qualquer história de amor. Simples, puro e intenso. Tudo bem conduzido sem ser piegas. Um feito, já que o filme é infantil.
Aliás, um trunfo do filme é trazer de forma indireta reflexões ao espectador adulto. Tantos questionamentos sociais e comportamentais; tanto pra se pensar em seus subtextos... Isso num filme destinado às crianças.

Como nem tudo é perfeito, o filme tem seus momentos ruíns. Após o brilhantismo inicial, somos apresentados a um grupo remanescente de humanos anatomicamente exagerados (leia-se gordos) no decorrer do filme. Eles vivem numa nave entitulada como Axion sob um estilo de vida acomodado à tecnologia de robôs que realizam trabalhos, por mais banais que sejam, em favor deles.
A nave Axion é a responsável por quebrar o silêncio do filme, mas nem por isso deixa de ser totalmente dispensável. Só apareceu para aborrecer o que estava dando certo. Por isso, repito: o personagem WALL-E é totalmente eficaz em segurar as pontas sozinho. No máximo com EVA coadjuvando. A tal nave só conseguiu interferir na perfeita animação do filme por não estarem à altura de tudo que foi mostrado.

"WALL-E" não é uma obra prima devido a inserção desnecessária dos humanos, mas emociona com as famosas lições de vida camufladas junto ao roteiro, tornando-se meu clássico pessoal.
A arte técnica, o gráfico, o áudio, os movimentos, a fotografia, tudo tão bem apresentado e elaborado que só envolvem mais ainda o público. Merecidamente concorrendo a seis categorias no Oscar este ano.

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