
Estava quase convicto que seria um filme bobo, com apelo apenas visual.
Pensei: o que um robozinho que quase não emite sons teria de interessante?
Após vê-lo só digo uma coisa, tratando-se de WALL-E, tudo é interessante! Mesmo com sua fala quase restrita em pronunciar seu próprio nome.
O enredo do filme é sobre um futuro pós-apocalíptico, onde os humanos conseguiram destruir tudo que tinha vida na terra, inclusive a sua própria. O que resta são apenas algumas estruturas de prédios e muito, mas muito lixo.
Em meio a esse ambiente opaco e inóspito, o único "sobrevivente" é WALL-E, um robozinho desenvolvido especificamente para recolher certa quantidade de lixo, compactando o mesmo para empilhar e tentar dar fim. Porém, iguais a WALL-E existiam vários, e estes não deram conta do recado pifando com o passar do tempo. Agora, WALL-E, e sua única companhia, a barata Spot, mantém sua rotina metódica recolhendo o lixo, mesmo que seja nitidamente impossível obter algum resultado com seu trabalho solo. O mais incrível é ver a solidão que essa situação evoca e a empatia imediata que se sente pelo personagem.

Eu poderia ficar três horas seguidas vendo apenas aquele robozinho em sua atividade diária, descobrindo coisas sem mencionar um som. Ele incrivelmente consegue manter nossa atenção sem qualquer diálogo mesmo!
Analisando o filme num todo, o primeiro ato é o melhor. É inevitável não se apaixonar por um robozinho com características tão humanas, de tamanha sensibilidade e inocência.
O senso ingênuo e curioso de WALL-E motiva-o a fuçar todo aquele lixo meticulosamente, separando o que é descartável e o que é para ele interessante. Sua casa é recheada de tranqueiras humanas que não são tão relevadas por nós.
Outro fato intrigante sobre a personalidade desse personagem é sua dedicação em efetuar seu trabalho mesmo sem supervisão e recurso. Através de algumas cenas monólogas (ironicamente sem falas), compreendemos a essência pura desse robozinho; tudo sendo retratado de forma emocionante. E de quebra temos pitadas de um humor equilibrado à estória.

Ele sempre tentando tocar suas mãos, ou tentando impressioná-la com seus "dotes artísticos" de dançarino, aprendidos por meio de uma película antiga encontrada no lixo que ele assiste assiduamente em sua moradia, é envolvente. Um romance dígno de fazer inveja em qualquer história de amor. Simples, puro e intenso. Tudo bem conduzido sem ser piegas. Um feito, já que o filme é infantil.
Aliás, um trunfo do filme é trazer de forma indireta reflexões ao espectador adulto. Tantos questionamentos sociais e comportamentais; tanto pra se pensar em seus subtextos... Isso num filme destinado às crianças.
Como nem tudo é perfeito, o filme tem seus momentos ruíns. Após o brilhantismo inicial, somos apresentados a um grupo remanescente de humanos anatomicamente exagerados (leia-se gordos) no decorrer do filme. Eles vivem numa nave entitulada como Axion sob um estilo de vida acomodado à tecnologia de robôs que realizam trabalhos, por mais banais que sejam, em favor deles.
A nave Axion é a responsável por quebrar o silêncio do filme, mas nem por isso deixa de ser totalmente dispensável. Só apareceu para aborrecer o que estava dando certo. Por isso, repito: o personagem WALL-E é totalmente eficaz em segurar as pontas sozinho. No máximo com EVA coadjuvando. A tal nave só conseguiu interferir na perfeita animação do filme por não estarem à altura de tudo que foi mostrado.

A arte técnica, o gráfico, o áudio, os movimentos, a fotografia, tudo tão bem apresentado e elaborado que só envolvem mais ainda o público. Merecidamente concorrendo a seis categorias no Oscar este ano.
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