30 junho 2009

Filme "CRASH - NO LIMITE"

"Crash - No limite" é um longa sem perfil de "grande produção", com um custo baixo para um ganhador do Oscar de melhor filme, por isso, foi a grande surpresa de Hollywood em 2005 ao levar a tão sonhada estatueta.
A tal projeção tem como roteiro um emaranhado de núcleos, em que cada personagem vivencia em seu “mundo”, frustrações que são laçadas por um mesmo efeito: o preconceito.
Há pessoas que digam estar o tema fora de moda, já eu acredito que em nossa realidade o racismo é latente. Por esta premissa, "Crash" torna-se desde sempre obrigatório.

Paul Haggis - roteirista do também oscarizado "Menina de Ouro" - como primeira impressão, parece querer explorar a proximidade entre a diversidade, mostrando que independente das diferenças (seja em que âmbito for), somos todos habitantes de um mesmo mundo, o que é óbvio, mas nem sempre lembrado.
Os argumentos poderiam ser ainda mais profundos diante de um tema tão presente. Mas podemos ressaltar méritos quanto ao decorrer do filme: seu desenvolvimento realista, gradual e imparcial - não há lado defendido no filme.

Dentro da proposta de Haggis, os clichês presentes não danificam o filme. Seria muito complexo não usar alguns artifícios conhecidos, já que a intenção do filme é apresentar uma estória abrangente.
Ao tentar englobar distintas culturas e conceitos, sem destacar um personagem em si, o roteiro poderia correr o risco de cair no descaso, trazendo uma estória monótona e desinteressante, porém ocorreu o contrário, resultando em uma trama envolvente, acompanhada de desfechos imprevisíveis para cada personagem, graças a forma com que foi conduzida.

Acredito que o maior feito de "Crash" foi abordar o preconceito como um sentimento presente em todos os lados. Negros e brancos, ricos e pobres... O filme conseguiu expressar as concepções que cada um tem de seu espaço. O que nem sempre é pela circunstância desfavorável, mas por escolha própria.

Parece piegas falar de sentimentos como “paz” e “amor”, mas "Crash" sem mencioná-los consegue mostrar como a falta desses recursos básicos resultam em intolerância, ódio, individualidade e medo. E só contribuímos para o agravamento da situação.
É assustadora a forma com que os enredos apresentam uma falta de solução para os problemas sociais. E nesta constatação fica claro que nossa permissão é a pior inimiga.

Quanto ao elenco, temos Thandie Newton que nunca havia feito um papel que exigisse tanto de sua atuação. Ela, mesmo não recebendo - como todos aqui - qualquer destaque na trama, consegue ser marcante, incorporando um dos personagens mais densos na estória, nivelado ao de Matt Dillon.
As interpretações são um atrativo à parte. Cada personagem tem seu momento.
Sandra Bullock, conseguindo, por sua vez, apresentar algo convincente e sério, e não somente beleza e carisma. Brendan Fraser, diga-se de passagem, me surpreendeu (difícil não vê-lo eternizado como o desmiolado "George - o rei da floresta"). Don Cheadle, mas uma vez ótimo. Somente Ryan Phillippe que tentou, mas não escapou da canastrice. Ainda falta um pouco para provar que pode oferecer mais que um rosto.
Emocionante, verossímil, ousado, impactante e melancólico. Um apanhado mais que justo desta película que mereceu seu prêmio com louvor.
Um filme intenso que merece ser visto e avaliado subjetivamente, para que o espectador tenha uma idéia mais convicta de seus conceitos e ações.

Pelos críticos chegou a ser comparado com a obra-prima “Magnólia”, porém, não alcança exatamente o nível do filme de Paul Thomas Anderson por soar mais comercial. Mesmo assim, “Crash” é um filme inteligente e intimista que consegue o feito de atingir o público sem colocar em risco a arte.

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