
Gibson, retratou as 12 últimas horas de Jesus antes de ser crucificado, ou seja, é o relato dos momentos mais tensos de Cristo. O espancamento; o julgamento; a agonia; a vergonha... tudo que culminou em sua morte e ressurreição.
O tema em si é forte e objetável por envolver religião. Ainda mais quando o diretor decidiu ser o mais verossímil possível.
Acredito que Gibson, intencionalmente, resolveu utilizar de todos os artíficios possíveis para polemizar, fazendo do filme uma famigerada e controversa projeção.
Um diabo andrógino (ofença aos gays); sacerdotes fariseus super atuantes em incentivar o sacrifício (ofença aos semitas); algumas alusões de crença estritamente católica (ofença aos protestantes); e a violência explícita chocando o espectador de forma quase unânime. Território perigoso numa época em que tudo agride, ofende e soa como discriminatório (realidade do melindre em que vivemos hoje).

As cenas de violência apresentadas chocam. Não é exatamente o filme mais intenso no tocante ao quesito "tortura", mas incomodou por ser em torno da figura religiosa mais propagada.
Eu acredito nas segundas intenções de Gibson ao produzir o filme, porém creio que imaginar um ritual de crucificação como um ato leve seria hipocrisia, conhecendo as barbaridades provocadas pela Roma antiga.
Como uma adaptação literária, Gibson tentou ser o mais fiel possível à Bíblia, expondo visualmente tudo que era descrito. Expressões no livro de Isaias (profeta messiânico) como "esmagado, moído e pisado" ficaram mais fáceis de compreender após ver o filme.
As chibatadas, a agonia, a transpiração em sangue, a dor, as perfurações nos pés e mãos, nada disso parece simples. Por isso, não vejo exagero por parte do diretor em mostrar tanta opressão.

Jim Caviezel não teve muita dificuldade em interpretar Jesus, imagino, já que sua maquiagem falava por si, e sua interpretação era nada mais nada menos que simular dor (muita dor!!). Entretanto, vi um belo trabalho dele em personificar tão bem a figura de Jesus. A aparência (pela imagem que a igreja criou) e a personalidade muito bem descritas.
O meu destaque vai para Maria, conduzida por Maia Morgenstern. Um show de expressão, minimalismo e dramaticidade. A Maria mais humana e mãe que já vi. Ela nos agoniza em suas cenas, conseguindo transmitir toda a dor da situação.
O roteiro mesmo seguindo o racíocio bíblico, tem suas peripécias típicas, incluindo pequenos fatos subjetivos de Gibson como, um urubu atacando um dos ladrões na cruz, ou um "demônio" assombrando Judas; crianças possuídas como figuras grotescas; Jesus brincando com a mãe; um diabo presente e escarneador, e etc... Mais nada que desfigurasse a história original.

Repito, eu apenas questiono a intenção do diretor, atrevendo-me a dizer que não passa de um engodo. Contudo, não se pode negar que ele foi um gênio! Conseguiu fazer umas das mais bem sucedidas campanhas de publicidade em torno de um filme.
"A paixão de Cristo" é o filme religioso mais bem produzido dos últimos anos. Comove, revolta, alegra, emociona, assusta, e transmite a mensagem milenar do amor de Deus que, nunca é demais diante do mundo em que vivemos. Pontos para a arte e a bilheteria.
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