25 janeiro 2010

Filme "ZUMBILÂNDIA"

Um vírus letal assola todo o planeta e transforma a maioria das pessoas em famintos zumbis. Por tal motivo, os poucos sobreviventes, para se defenderem, se vêem obrigados a procurar um local seguro, evitando assim de serem devorados.

Parece uma sinopse familiar? É... eu sei, mas já adianto que não estou falando de “Diário dos mortos”, nem de “Madrugada dos mortos”, nem “Extermínio”, ou qualquer outro filme do estilo "mais do mesmo", e sim, de “Zumbilândia”!
Com certeza, você deve estar se perguntando: que raio de título infantilóide e bizarro é esse?
Bom, por meio dele, pode-se obviamente prever que a proposta deste filme, apesar de abordar pela milésima vez o corroído tema “mortos-vivos”, não é a mesma a qual estamos acostumados a ver.
Em primeiro lugar: para contornar o desgaste do gênero, a direção optou por inserir na estória uma linha humorística – o melhor exemplo que temos dessa novidade é o divertido “Todo mundo quase morto”.
Por isso, este filme, adequadamente denominado de “zumbilândia”, traz sua significante e necessária contribuição para repaginar o “universo dos zumbis”.

É certo que há cenas fortes e sanguinolentas e toda aquela típica carnificina do gênero, mas vale ressaltar que o clima dos acontecimentos estão sob um camuflado ar infante (nada comprometedor), desviando o filme de qualquer tipo de apelação. Méritos da esforçada direção do iniciante Ruben Fleischer e do empenho de seu engajado elenco.
No entanto, por mais paradoxo que seja, mesmo contendo essa essência ligeiramente juvenil, não o recomendo para os pequenos por ser o mesmo mais pesado do que se espera em suas primeiras tomadas.

A princípio, ambos os roteiristas, Rhett Reese, contando com a cooperação de Paul Wernick – ambos desconhecidos –, desenvolveram a estória para uma suposta série de televisão, em que a primeira metade do filme seria o provável episódio-piloto. Talvez os produtores pressagiaram o êxito do filme, e assim “Zumbilândia” veio direto para as telonas, tornando-se então sucesso de público e crítica nos EUA.
E graças ao seu desenrolar agitado, inovador e suficientemente atrativo, já se escuta rumores sobre suas sequencias (isso mesmo, no plural).

O ator Jesse Eisenberg (“Amaldiçoados”) – eficiente em seu estereótipo de nerd americano – é um dos protagonistas e ao narrar à estória em primeira pessoa dispensa aqui o intrincado e desnecessário cruzamento de informações em se tratando de filmes de terror.
Logo de início, ele apresenta ao espectador suas inúmeras e promissoras regras de sobrevivência, disciplinadamente seguidas por ele, que mostram como se sair ileso de uma infestação de zumbis, momento este em que ele se encontra.
Toda vez que Columbus, o personagem de Jesse, cita uma regra e o momento propício de executá-la, a cena é exemplificada na tela, descrita com direito a título em letras garrafais, rebobine da ação e ótica sob variados ângulos, tudo isso para que todos possam, meticulosamente, entender como funciona os seus elaborados escapes contra os iminentes ataques dos hostis zumbis.

Continuando com o elenco que, diga-se de passagem, é um show à parte, temos o versátil Woody Harelson (“Sete vidas”), encarnando um papel digno de seu perfil: engraçado, cínico, indiferente e destemido; sendo ele o responsável por ajudar involuntariamente Columbus (Jesse Eisenberg).
E para que tudo se torne funcionalmente mais caricato, o paradigma de anti-herói indestrutível que gira em torno do personagem de Harelson é “desvirtuado” quando contemplamos sua obstinação por achar um tipo específico de bolinho recheado, que para ele é mais importante do que aniquilar os perigosos mortos-vivos à sua volta.

Não posso me esquecer das representantes femininas do casting principal, composto por Abigal Breslin ("A pequena Miss Sunshine") e Emma Stone ("Superbad - é hoje").
Por algum tempo eu tive a pequena (já não tão mais) Abigal como superestimada. Após seu papel aqui, posso dizer que o talento dela não é extraordinário, mas merece às honras que já teve.
Já Emma Stone, bonita e carismática, me remeteu aos tempos áureos da carreira de Goldie Hawn, por ser ela uma espécie de versão morena e trinta anos mais jovem da tal.

Um detalhe que também merece ser revelado aqui é a inversão comportamental pela qual os personagens foram definidos.
Normalmente as mulheres em filmes assim colaboram para com os gritos e o pavor das cenas, enquanto os homens tomam as rédeas da situação, encabeçando os momentos cruciais da ação – embora esta seja uma visão antiquada, machista e clichê, que ainda persiste no cinema. Só que em “Zumbilândia”, qualquer homem que se atreva a mexer com a dupla de irmãs Wichita (Emma) e Little Rock (Abigal), se arrependerá.
Elas, por meio de uma bem explorada transposição de personalidade, são bem ordinárias – no bom sentido, claro. E à custa dos personagens de Woody Harelson e Jesse Eisenberg, elas protagonizam os momentos mais sacanas da estória, fazendo por isso, o ingresso valer ainda mais.

Das tantas qualificações, a bastante comentada aparição bem-humorada de Bill Murray tornou o filme ainda mais proveitoso. Ele afirmando seu arrependimento em participar do filme “Garfield”, foi impagável!
Quanto à parte visual do filme, só me resta prosseguir incessantemente com os elogios. A caracterização dos zumbis é precisa, aterradora e sutilmente cômica. A fotografia, esplêndida! A ambientação erma das cidades, super crível. Enfim, está tudo muito bem nivelado a qualidade do roteiro.

A única questão que poderia ser vista como problema neste longa é narrativa que em meados torna-se arrastada, mas por ser por um lacônico período, não é nada que prejudique o filme.
Na verdade, o público acaba entendendo que tudo não passa de uma produção esperta que soube brincar alternativamente com um tema desgastadíssimo, conseguindo também manter a qualidade junto ao enredo, devido ao esmero de toda uma equipe.
Sem mais, o ótimo roteiro é detentor de todas aquelas características inerentes ao gênero: competência visual, futilidade estrutural e inconsequência por parte dos personagens. Ou seja, o resultado não poderia ser mais satisfatório.
E para que o proveito seja por completo, recomendo que o espectador se focalize somente na identificação com os personagens (que é certa), na diversão (também garantida) e mais nada.
Acreditem: quem quiser assistir “Zumbilândia”, não irá se arrepender.


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