
Mas a verdade é que, como nem tudo é absoluto no mundo do cinema, eu me surpreendi com uma de suas recentes adaptações, dirigida pelo também roteirista Frank Darabont, denominada como “O nevoeiro”.
O diretor Darabont parece ter se tornado um especialista em dar vida às obras de Stephen King. Em suas três experiências – “Um sonho de liberdade”, “À espera de um milagre” e “O nevoeiro” –, ele, unanimemente, obteve consideráveis acertos. E o mais curioso com relação aos três filmes é que a sensação de “confinamento” está relacionada em todos eles. O que nos mostra a uniformidade na forma de o diretor francês trabalhar.

A princípio eu pensei que “O nevoeiro” de Darabont fosse um remake deste clássico do terror, tipo, uma espécie de retratação à horrorosa refilmagem de 2005, “A névoa”, mas não é. Não existe ligação entre os dois e o produto de Darabont é simplesmente muito melhor.
Em primeiro lugar, “O nevoeiro” foi divulgado como sendo um filme de terror... não que seja enganosa tal informação, mas todo o, digamos, “terror” da estória é apenas um pretexto para se aprofundar em um tema muito mais denso: o comportamento humano perante o desconhecido.
A estória do filme se passa, obviamente, em uma cidade pacata dos EUA, enfocando o personagem David Drayton (Thomas Jane), ilustrador de cartazes de filmes de Hollywood, que mora com a mulher e um filho pequeno.
Após uma forte tempestade, resultando em alguns estragos consideráveis em sua casa, ele, o filho e o vizinho, também prejudicado pelo temporal, vão até um supermercado próximo atrás de materiais para o conserto. E a partir daí eles ficam enclausurados no tal supermercado, com mais um grupo de pessoas que também estavam à procura de suprimentos, devido a um bando de criaturas grotescas e sanguinárias, envolvidas por uma espécie de névoa, que está ameaçando-os mortalmente do lado de fora.

Alguns beiram o desespero; outros, de forma extrema, se apegam a fé e arrastam outros com ele; outros se mantêm inertes; enquanto outros, com espírito de liderança, obstinam-se em escapar, não importando como. E sob tal variedade de sentimentos, o filme se segue linearmente tenso e limítrofe, assustando mais pela estupidez dos seres humanos, do que pelos próprios monstros. Todavia, não se podem menosprezar as criaturas, são elas realmente assustadoras, ainda mais por não sabermos ao certo o que elas são e de onde vem.
De qualquer modo, a sensação de agonia e ansiedade toma conta do evento. Ponto positivo para a trama.
O melhor de tudo é que todos os recursos utilizados aqui são condizentes com o que a estória que passar. Das tantas qualificações, temos os diálogos perfeitos e bem alinhados; o visual assustador; os efeitos muito bem produzidos; o clima inquietante e a precisa trilha sonora.
Outra questão a favor do longa são as atuações bem acima da média. Destaque para a indômita religiosa Sra. Carmody, interpretada por Marcia Gay Harden, que rouba a cena, ainda que sua fanática personagem tenha um comportamento manipulado, sob a idéia errônea de que todo religioso é irracional e com tendência homicida. Fora isso, seu papel é esplêndido e quase ofusca o elenco por inteiro. Pode-se dizer que, ela é o ponto chave para todos os desvarios causados entre os presentes no local, responsável também por formar dois grupos antagônicos, por a mesma acreditar ser a “enviada de Deus” para aquela situação apocalíptica, em que todos devem ser incitados por ela ao arrependimento – as figuras monstruosas segundo sua visão, representam o castigo de Deus como expurgo aos pecados dos habitantes da cidade.

Até Thomas Jane, elogiável aqui, se superou no papel por normalmente sua interpretação soar um tanto inane.
A derrapada que o mesmo dá no último ato, com sua tépida reação diante do áspero ocorrido (que não posso sob hipótese alguma contar) consegue ser relevada, visto que, seu esforço durante todo o longa foi notável.
O argumento para a razão do nevoeiro, ainda que especulativo, foi o único ponto irregular da estória, no entanto, essa lacuna não desmerece o filme que, sinceramente, me divertiu e me surpreendeu.
Enfim, esta concisa estória merece ser vista e avaliada sob a visão pessoal de cada um. Com certeza, várias lições podem ser tiradas por intermédio deste roteiro muito bem dirigido e mais do que recomendado.

Um comentário:
Simplesmente RUIM!
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