Graças a algumas de suas analíticas obras, enfocando, claro, o magnífico “Dogville”, eu considerei por algum tempo o cineasta Lars Von Triers como sendo alguém bastante capaz e introspectivo, não levando em conta, é claro, alguns dos poucos filmes inúteis dirigidos por ele.
Porém, por intermédio de seu último longa intitulado como “Anticristo”, ironicamente identificado como seu trabalho mais denso e filosófico até então, minha admiração pelo mesmo ficou meio abalada.
Muitas das vezes, estes profissionais da arte, visados por sua complexidade, não são compreendidos ao certo e acabam por receberem do público a indiferença, e assim, dos especialistas da área às vociferantes críticas. E quase sempre pelos mesmos motivos: a difícil assimilação da real intenção do roteiro.
Normalmente, a culpa fica por conta da linguagem excessivamente erudita e conscientemente evasiva, ou pelos excessos de metáforas e analogias em sua retratação. E, ao que parece, esse é o perfil do comentadíssimo “Anticisto” – merecedor de todo repúdio.
Porém, Lars Von Triers conseguiu ser plenamente entendido e mesmo que dividindo opiniões, bastante elogiado. Mas, nem por isso, este filme deixa de ser um trabalho bastante penoso de se acompanhar.
Muitas das vezes, estes profissionais da arte, visados por sua complexidade, não são compreendidos ao certo e acabam por receberem do público a indiferença, e assim, dos especialistas da área às vociferantes críticas. E quase sempre pelos mesmos motivos: a difícil assimilação da real intenção do roteiro.
Normalmente, a culpa fica por conta da linguagem excessivamente erudita e conscientemente evasiva, ou pelos excessos de metáforas e analogias em sua retratação. E, ao que parece, esse é o perfil do comentadíssimo “Anticisto” – merecedor de todo repúdio.
Porém, Lars Von Triers conseguiu ser plenamente entendido e mesmo que dividindo opiniões, bastante elogiado. Mas, nem por isso, este filme deixa de ser um trabalho bastante penoso de se acompanhar.
Em primeiro lugar: o filme se excede em suas alusões escriturísticas por não se limitar às entrelinhas, o que torna sua essência bastante cínica e polêmica. Não que isso seja necessariamente reprovável, mas sua deliberação, sim.
Como dito, todas as intenções do diretor neste filme são propositais, esperando conscientemente causar furor, aversão, desconforto, tudo na mais radical das acepções.
A idéia principal, por mais ilusória e metafórica que seja, é vendida como sendo totalmente absoluta, mesmo liberando espaço para outras interpretações, porque, no fim, levam ao mesmo objetivo - se é que existe um.
Parece que o autor quer somente ser visto e ouvido, não importando o que os outros pensem desde que estes absorvam, inquestionavelmente, tudo que for mostrado ali e formem assim opiniões sob a ótica dele.
Quanto à estória, esta relata, em partes, a insanidade e a impotência do ser humano diante de uma situação dolorosa – a perda de um filho.
O roteiro opta por destrinçar o comportamento humano, para simplesmente ratificar o quão irracional e contraditório ele é.
Os únicos personagens aqui, um homem e uma mulher, é o casal da trama, interpretados magistralmente por Charlotte Gainsbourg (premiada pelo papel) e Willem Dafoe (atuação também perfeita).
O início do filme já é o suficiente para chocar: o casal aparece fazendo sexo, de forma bem intensa (com direito a um close interno de penetração vaginal), até que, nesse exato momento, o filho destes acaba caindo de uma janela, resultando em um acidente obituário, sendo tudo presenciado pela mulher que, por estar aparentemente extasiada pelo prazer da relação sexual, manteve-se inerte diante da cena – a razão real de sua atitude vem gradativamente no decorrer do filme.
Ela, sucumbindo em um estado sufocante de depressão pelo ocorrido, conta com a ajuda do marido, este psicólogo, que decide fazer algo para livrá-la de seu tormento pessoal, quando, simultaneamente, o mesmo tenta superar a tragédia.
Então, ambos se retiram para uma casa no campo, denominada sugestivamente de Éden, buscando refúgio. O que eles não sabem é que ali todo o drama dos dois se travestirá do mais puro terror.
O maior mérito de Lars com esta estranha experiência chamada “Anticristo” é a sua capacidade de persuadir o espectador com seus personagens carregados, aliciando-os a adentrar em meio à sua loucura.Tudo é levado de forma bem progressiva em que o enredo flui sem impedimentos, devido ao belo trabalho das câmeras otimamente posicionadas, privilegiando cada detalhe de um dos mais belos trabalhos que já presenciei no que diz respeito à fotografia.
Sua conclusão literalmente torturante cria uma sensação antagônica entre o principio e o fim da estória. A primeira cena é totalmente estética, com direito a belas filmagens, ótima trilha de fundo e um visual rico em preto e branco. Por outro lado, o último ato do filme é totalmente responsável por sentimentos como repulsa, indignação, tensão e, no meu caso, desapontamento.
Não que eu esperasse um filme raso, com desfecho óbvio, tampouco de resoluções dóceis, afinal, se tratava da mais nova e pretensiosa obra do pedante Lars Von Triers, mas a questão é que não é um filme de fácil digestão.
O sentimento negativo que o filme insere na mente permanece durante algum tempo, não só pela nítida misoginia, ou as inconcebíveis mutilações e todo o clima horrivelmente claustrofóbico, mas por ser um trabalho, no fim, depressivo, assim como o próprio autor que, se encontrava nessa circunstância quando elaborou o filme.
Sem mais delongas, “Anticristo”, a meu ver, não passou de um mero abuso de argumentos, por vezes, incoerentes e sem propósito, descambando-se em um gratuito e generalizado exagero visual, impulsionados por uma mente, naquele momento, debilitada.
Se alguém quiser assistir a degradação humana pela visão de um melancólico em potencial, este filme é um prato cheio. senão, assista-o pelo aspecto técnico que, por sinal, está excelente. Do contrário, adianto: é um mero exemplar duvidoso e intransigente do cinema cult.
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