19 janeiro 2010

Filme "VÍRUS"


Antes de qualquer observação em relação a este filme, é preciso definir uma questão: “Vírus”, desde o seu prólogo, já apresenta altos sinais de dramaticidade que vão se acentuando no decorrer da fita, portanto, não se enganem com o cartaz ou o trailer do mesmo: não se trata de mais um terror sobre a propagação de um vírus mortífero, e sim, um drama.
A estória, como sugere o título, apresenta uma espécie desconhecida de vírus sendo o mesmo responsável por dizimar toda a população, restando assim apenas um irrisório número de sobreviventes, entre esles dois irmãos, a namorada de um deles e uma amiga de outro.

Em busca de um local seguro, tendo como referência uma casa de praia, na qual os irmãos passaram grande parte da adolescência, os quatro, de carro, encaminham-se rumo a este nicho, tendo como sua maior proteção no percurso apropriados litros de desinfetantes.
Não é necessário citar que o pano de fundo para esta aventura nada tem de original: pandemia global; extinção humana; clima apocalíptico; nada que já não tenhamos visto e sob diversas retratações. Mas é preciso frisar que em “Vírus” a abordagem alcançou certo primor. O motivo se dá por todo o desgaste do tema ser contornado pela intensificação dos conflitos pessoais dos personagens em detrimento à violência gratuita inerente do gênero.


Outro ponto interessante se dá pelas características sobrenaturais inexistentes aqui. O roteiro tenta (e consegue) seguir por uma linha bastante crível, abdicando-se de qualquer argumento que pudesse inserir os aborrecidos zumbis sedentos por carne humana. O clima até sugere a idéia, mas não passa de uma mera e proposital insinuação. Um tipo de “pegadinha” com àqueles que estavam à espera de mais um saturado filme de mortos-vivos.

Bom, a narrativa desta produção dá sequencia à intensa jornada dos quatro jovens em busca do supracitado local desinfetado e seguro. E por assim ser, seu argumento, ligeiramente considerável, aborda sociologicamente toda a tensão do momento.
As reações são subjetivas, mas todas refletem o pânico entre eles, seja reprimido ou explícito, diante dos caóticos e desérticos lugares por onde passam – méritos para a eficaz fotografia. E nada do que eles presenciam contribui para que a esperança na sobrevivência seja alimentada, inda assim, tentando não serem confrontados à insanidade, optam em conjunto pelo otimismo.

É claro que, devido à ação aniquiladora e melindrosa do vírus, por sua fácil transmissão no ar, os jovens são forçados a usar máscaras o tempo todo (auto-personalizadas até) e a esterilizarem tudo o que tocam. Por tal motivo, qualquer contato que seja com alguém desconhecido é reconhecido como perigo letal.
E assim, a trama se segue explorando seus personagens que, visivelmente vão se alterando no tocante ao temperamento, dando vazão à violência, ao egoísmo e a intolerância contra eles mesmos.
O roteiro não se aprofunda nas questões psicológicas, mas também está longe de ser uma representação superficial.

Voltando-se agora ao elenco, temos Chris Pine ("Star Trek"), dos atores aqui o mais promissor, não fazendo feio com sua segura atuação; já Piper Perabo ("Show bar"), sempre sensível, consegue se manter precisa e marcante em sua participação. Os outros não tem nomes expressivos, mas tiveram um desempenho razoável.
As regras de sobrevivência, do tipo que havia em “Zumbilândia” – é claro que sem o apelo cômico da situação – estão presentes aqui, mas sem a mesma importância. Elas somente elevam o nível de paranóia entre o quarteto.
Aliás, falando em "Zumbilândia" parece que estamos vivenciando a era dos filmes zumbis alternativos: comédia, agora drama... interessante.

Em relação ao ponto mais marcante do filme que se dá por sua verossimilhança, considerado sua maior qualidade é também seu maior defeito. O desenvolvimento do filme tem um decorrer progressivo, porém, periga por diversas vezes cair na monotonia. Culpa da direção inexperiente que, ao optar por simplesmente focalizar o comportamento humano, se esquece de ousar um pouco. Afinal, o tema está sendo mostrado sob outra roupagem (Leia-se sem zumbis), então era esperado que outros elementos substituísse a ausência de um vilão visível.

Enfim, sem efeitos especiais mirabolantes, ou desfecho repleto de susto e ação, o melhor mesmo do filme é o seu realismo, concluindo então que “Vírus” não é um exemplo espetacular da sétima arte, mas é minimamente recomendável e interessante.


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