21 janeiro 2010

Filme "A MULHER INVISÍVEL"

Eu sempre tive receio de assistir películas brasileiras. Eu assisto, mas quase sempre não me agradam. Nem mesmo os grandes sucessos como "Carandiru", "Cidade de Deus" ou o superestimado "Central do Brasil".

Com certeza, são filmes que possuem certas qualidades, mas somente em compartimentos, dificilmente como um todo.
À princípio parece ser uma visão preconceituosa, mas a verdade é que me incomoda ver filmes tão crus, desperdiçando alguns bons atores.
Muitos soam como denotação de pobreza, sem preocupar-se com a mediocridade. A desculpa está sempre no baixo orçamento, nos parcos patrocínios... tudo bem, isso explica, mas não justifica.
Bons roteiros dependem mais de talento do que de qualquer outra coisa; o dinheiro é só o recurso que irá concretizar a idéia impressa.
Os filmes independentes e pecuniariamente inferiores já provaram ter muito mais consistência do que as superproduções descerebradas de Hollywood - "Transformers” se diga de passagem.
Então, só resta concluir que além da falta de dinheiro, falta aptidão cinematográfica em nosso país?
O elogiável "A casa de Alice", e o simpático "O auto da compadecida", ainda não me deixam generalizar, porém, a divisão que há entre a afirmação e a especulação é muito tênue.

Bom, voltando-se ao filme em específico, Cláudio Torres, o responsável pela elaboração do roteiro e da direção, entrega sua terceira obra intitulada como "A mulher invisível", esta comédia brasileira de caráter romântico.
Qualquer um a essa altura do campeonato não precisa ser cinéfilo para afirmar que as comédias românticas seguem uma espécie de raciocínio padrão para sua realização. Mudam-se os temas, enquanto o perfil dos personagens, assim como o desenvolvimento, e o desfecho das estórias, são invariavelmente os mesmos.
No Brasil não é muito diferente, a não ser por um considerável detalhe: a falta sofisticação.

Nesta projeção, o roteiro, nada original, nos apresenta o protagonista Pedro se desiludindo com sua mulher que, logo de início, confessa não aguentá-lo mais por sentir-se "invisível" em sua vida iludívelmente perfeita, e assim, o abandona em uma profunda depressão.
Após esse ocorrido, ele, inconscientemente, cria a imagem de uma mulher escultural chamada Amanda, totalmente adequada às suas fantasias masculinas: que entende e se interessa por esportes; que está sempre linda e disposta a fazer sexo; que perambula pela casa com lingeries provocantes; que não se incomoda em ser traída; que não discute a relação, e por aí vai.
Obviamente, ele não tem noção de que a tal beldade seja obra de sua imaginação.
Já dá pra imaginar que agora só resta contemplar as diversas situações atípicas e constrangedoras, pelas quais, Pedro irá passar.

A estória, a princípio, já se mostra requentada, com pontos que se apresentam evidentes desde o prólogo do filme.
Tudo é muito previsível, e por vezes caricato, mas graças às cenas de humor gratuitas é que "A mulher invisível" não é uma verdadeira perca de tempo.
Pelo contrário, é bem mais engraçado que muitas pretensiosas comédias ianques. Embora, isso não seja razão suficiente para salvar o filme da insignificância.

Selton Mello, ao interpretar o personagem central, oscila entre o razoável e o péssimo. Mesmo ele tendo oferecido atuações esplêndidas em novelas e em alguns filmes; mesmo sendo ele super requisitado em nosso cinema; ainda assim, fiquei com uma péssima impressão dele nesse longa. Ele não mostrou em nenhum momento seu notório potencial.
Exagerado, aparentemente desconfortável, e forçado em muitas das cenas – sem contar com dispensável tom de voz alterado –, Selton causa constrangimento em boa parte do tempo.
Só não diria que ele está canastrão no papel, porque esse título é de Luana Piovani, como a tal mulher invisível.
O que salva Luana é sua beleza inquestionável. Para o papel não teria ninguém fisicamente mais adequado. A coisa só desanda mesmo quando ela abre a boca. A sorte é que com ela em cena, principalmente seminua, ninguém irá se concentrar em sua representação.

Como elenco secundário, temos Vladmir Brichta (está bem, mas seu personagem é irritante); a simpática e não tão conhecida Maria Manoella; e o que há de melhor no filme, a irmã do diretor, Fernanda Torres ("Os normais"), que possui as melhores tiradas e rouba todas as cenas em que aparece. Pena ter sido tão mínima sua participação.

Agora, o que está sendo novidade nas comédias românticas americanas, como exemplo tem "A verdade nua e crua", é o linguajar chulo, acompanhado de leves palavrões.
Em produções brasileiras isso não é novidade – e sim, uma característica –, mas os diálogos de “A garota invisível”, por já serem superficiais, ficam ainda mais fúteis com o excesso de expressões vulgares do tipo "vou dar pra ele" ou "não tô comendo ninguém".
Não baixam o nível por completo, mas é aí que entra a "falta de sofisticação" citada anteriormente.

Entre outros defeitos, temos a edição que deixa a desejar; a fraca e deslocada estrutura narrativa; a contradizente trilha sonora (de muito mau gosto, por sinal); o desfecho meloso de sempre; e por fim, a artificialidade das situações: destaque para as cenas em que Selton se relaciona sexualmente com várias mulheres para esquecer o ocorrido com a esposa logo no intróito da projeção, com direito a uma pontinha bizarra de Karina Bacchi. E as tomadas de Vladmir Brichta fingindo cair (ou realmente caindo), tentando conquistar a personagem de Maria Manoella. Não tinham por mais em quê serem piores.

E pra não parecer injusto, reafirmo que o que não transforma "A mulher invisível" em um fracasso total, são as situações absurdas vivenciadas por Pedro.
Somente nesses momentos, que são bem engraçados, Selton Mello oferece algo mais convincente, afinal, timming cômico ele tem.
Pra mim, a cena que vale o filme é a do surto de Pedro em uma cerimônia com a presença de seu chefe e do governador.

Enfim, longe de ser um elogio (está mais para uma conformação), dentre os trabalhos de Cláudio Torres – "A mulher do meu amigo" e "Redentor" –, este é, com certeza, o mais apreciável.
Só posso dizer que, como espectador, continuarei a ser exigente no tocante à qualidade do roteiro de nossos filmes, contudo, estarei um pouco mais esperançoso por ver alguns avanços no cinema nacional – o recente e notável “Divã” estrelado por Lilian Cabral, é um exemplo.


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