
Keanu Reeves já provou que sabe muito bem selecionar as produções em que estrela. Não por serem filmes inteligentes, mas por terem grande apelo comercial e altíssimo orçamento. Está certo que isso não gera boas críticas ao seu desempenho, porém, enchem seu bolso. No fim, ele está no lucro. Sua imagem é bem propagada para os fãs, e sua carreira se mantém firme, a ponto de exigirem sua presença como protagonista, comprometendo até a concretização do projeto se assim não for, como no caso de "Constantine" - O personagem central do título é vivido por ele.
Protagonista também da trilogia arrasa-quarteirões "Matrix", Keanu Reeves está sempre com uma atuação inconstante, inexpressiva e de caráter tênue. Por incrível que pareça, ele ainda não conseguiu entregar uma interpretação primorosa. Em "Constantine" o que o salva são as cenas de ação em que o mesmo tem grande habilidade em realizar.

Nascido com um dom que não desejou - a capacidade de reconhecer claramente os anjos e os demônios híbridos que andam pela Terra com aparência humana -, Constantine (Reeves) tirou a própria vida para escapar do tormento de suas visões. Porém, sua tentativa fracassou. Contra sua vontade, ele foi ressuscitado com a incumbência de proteger a fronteira entre o céu e o inferno, para aniquilar todos os demônios que teimam em vagar em nosso meio, mandando-os de volta ao seu " habitat".
Como um suicida em potencial, Constantine tenta expiar seus pecados por meio de sua missão - ele que está longe de ser um héroi convencional, muito menos espiritual. Concluindo então seu trabalho, ele ganha a salvação.
Rachel Weisz ("A múmia"), está maravilhosa interpretando gêmeas sensitivas. Realmente ela rouba a cena, e é de uma presença incrível, além de bela.
Como a policial Angela Dodson, Rachel pede ajuda a Constantine para tentar solucionar o caso da morte de sua irmã, a mesma (também intepretada por Rachel) que morreu sob circunstâncias sobrenaturais, deixando Angela perturbada, embora ainda cética.

"Constantine" é de uma temática polêmica, assustadora e obscura. Em meio a tantos personagens heróis sem contexto, Constantine possui carisma, mesmo não tendo o melhor dos caráteres.
A estória não é lá uma obra prima, mas instiga a imaginação, estimulando a curiosidade pelo desconhecido.
O elenco base da trama mostra-se convincente e preparado. Somente Reeves não consegue se equiparar aos colegas. Porém, não está pior que em seus último filmes.
Peter Stormare, numa proposta sátirica, incorpora o diabo (inevitável o trocadilho) habilmente. Até mesmo sua feição natural é assustadora. Ele expressa com perfeição a imagem preconcebidamente suja e pavorosa de satã.
Tilda Swinton está singular como Anjo Gabriel. A ironia de sua androginia foi extraordinária.

Agora, entre os pontos negativos está o diálogo banal e o roteiro incoeso. No entanto, "Constantine" é isso, um ótimo entretenimento; uma super produção hollywodiana perfeita para ocupar o tempo. Só não espere muito do filme - apesar de sua ousadia e pretensão -, pois assim o proveito é maior.