19 março 2011

Filme "PASSE LIVRE" (2011)

Um filme que tem à frente da direção os irmãos Peter e Bobby Farrelly ("Quem vai ficar com Mary?"; "O amor é cego"; "Ligado em você"; "Débi & Lóide"...), contando com Owen Wilson (“Marley & eu”) e jason sudeikis (“Saturday Night Lives”) como estrelas, o que pode se esperar?
Bom, dos manos diretores, se fosse há alguns anos, eu diria que a possível melhor comédia da atualidade. Já tirando pelos protagonistas, Owen Wilson nunca me convenceu, enquanto Jason, um tanto desconhecido, a não ser por sua atuação no mediano “Saturday Night Lives”, passou-me melhor impressão se comparado ao seu companheiro de filmagens, mesmo sendo Owen veterano.

Esta comédia retrata a vida de dois amigos adultos e casados, donos de uma notável e incômoda libido adolescente. Por tal motivo, os dois recebem de suas respectivas e expectantes esposas a liberação para curtirem uma semana de paqueras descompromissadas no intuito de os dois compreenderem a importância do amadurecimento etário e do envolvimento estrito e sem reservas com suas parceiras.

Filmes assim, lógico, não trazem nenhuma novidade. O foco é o mesmo de sempre, explorar o constrangimento que os astros principais irão passar. Alguns surreais, outros mais críveis, contudo, é somente isto.
A escatologia, os estereótipos, os personagens secundários excêntricos, as situações desconfortáveis em lugares impróprios, é no que se resume “Passe Livre”. É até difícil desviar-se do habitual ao analisar tal película, pois realmente o filme transborda inautenticidade, forçando a barra mesmo, numa tentativa desesperada de arrancar risos fáceis e descerebrados.

Sempre curti filmes cômicos que seguissem uma linha mais sacana, com algumas funcionais e empíricas gags, como os irmãos Farrelly costumavam fazer, e com certo requinte até. Eles atingiam o grau exato de irreverência sem cair no ofensivo. E mesmo que o fizessem, eram justificados pela singularidade. Porém, parece que essa parceria cineástica, que transcende o fraterno, caiu na própria armadilha do enredo de “Passe livre”. Eles atingiram assim a maturidade e agora não entregam mais produções ousadas e eficazes em suas propostas como antes. O que esclarece o resvalo final niquento e piegas da projeção, atitude recorrente nas comédias de hoje.

Durante o decorrer do longa é possível se entreter, rir um bocado, até mesmo se simpatizar pela dupla formada por Owen e Jason, mas ainda não é era o esperado.
Diria que Jason roubou a cena, ainda que me passasse a idéia de caricatura extrema. Owen, por outro lado, prefiro não me aprofundar. Sua inexpressividade, paradoxal a sua esgares, não pode ser perdoada nem mesmo em um filme que não exija tanto de seu desempenho como ator. Ele é estigmaticamente risível no pior dos sentidos.
Mas o que mais me aborreceu em detrimento do elenco, foi ver Christina Applegate, aqui encarnada no tipo “housewife”, tão inerte, sem seu conhecido e profuso timming para o gênero. Quem a viu no saudoso seriado “Married with children”, sabe do que estou falando.

No tocante a parte técnica do filme, os farrelly mantêm o mesmo estilo, sem muitas novidades, mas competentes no que fazem.
É claro que em “Passe livre” há resquícios do que os brothers farrelly tem de melhor, ao julgar pela composição de cada tomada, extraindo ao máximo a comicidade de seus atores, mesmo quando estes não são naturalmente divertidos. O problema é que a fórmula utilizada está agora desgastada, e perambular pelo absurdo para se render a sobriedade familiar final não condiz com o perfil que eles traçaram no início de carreira. Tempos esse em que Jim Carrey foi revelado e Ben Stiller era engraçado.

Voltando-se agora às cenas de "Passe livre", no geral, são demasiadamente impulsivas e embaraçosas, sem contar com o forçado comportamento importuno e púbere da dupla. Parece uma versão alternativa piorada de “Se beber, não case”, apostando em aparentes trintão-quarentões com uma esbulhada postura juvenil, beirando sempre o exagero.

O supramencionado desfecho teria um significado mais persuasivo se a previsível guinada que a trama teria não fosse tão óbvia. E insisto: não combina com os Farrelly comédias que se concluem de forma politicamente correta, por mais bonita e precisa que seja a mensagem.
É uma pena que tantos disparates conferidos em “Passe livre” tinham a única intenção de entregar um fim panfletário.
Jennifer Aniston e Adam Sandler devem estar se sentindo lesados neste momento.


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