
Qualquer marmanjo que se preze, já ouviu falar de Bruna Surfistinha. Ela ficou conhecida por relatar seus verídicos episódios sexuais com os clientes por intermédio de um blog. Mas alçou fama mesmo por ter seu diário virtual impresso em livro, o famigerado “O doce veneno do escorpião”, além de ter uma passagem transitória pela carreira pornográfica.
Para a moça isso rendeu entrevistas, participações em programas televisivos populescos, outros títulos publicados derivados de seu primeiro livro, e foi assim que “Raquel Surfistinha” instigou o diretor Marcus Baldini a retratar sua história em um longa.
Eu não tenho dúvidas que o filme será sucesso, afinal, foi bem divulgado, extremamente aguardado, é uma película naturalmente polêmica e posso adiantar que as expectativas não serão abaladas.

Mais o filme vai além. Eu pressupunha que o filme seria apenas isso, cenas de sexo gratuitas sob o pretexto do tema, mas não. É claro que o filme não é o melhor exemplo do que é ser profundo ou introspectivo, mas ele é sincero.
O tema por si só é difícil de abordar, e na maioria das vezes, os que optam por trabalhar o mesmo transmitem a impressão bifurcada de moralismo ou apologia. Mas aqui nada é desmedido ou transtornado.
O diretor foi, em tese, fiel ao livro, sendo transparente e, por vezes, imparcial, pois o roteiro apresenta a história sem focar nitidamente em julgamentos.
Porém, ainda assim o filme não deixa de ser didático em alguns pontos, pois a narrativa, gradativa e implicitamente, tenta justificar alguns dos, digamos, "desvios de caráter" da personagem.

No livro ela é mais complexa, do tipo rebelde sem causa - se comparado a sua família estruturada -, escolhendo a vida libertina simplesmente pela sua simpatia e vaidade inerente ao sexo.
Pode-se até dizer que incoerência entre filme e livro se dá somente em sua essência, mas nada que prejudique a ideia em si, afinal, a descrição das situações pelas quais ela passa, juntamente com a cronologia dos fatos, estão de acordo.
Quanto à sobredita protagonista, Débora Secco, esta foi precisa em sua atuação. Surpreendeu-me até, já que eu nunca a vi como uma atriz destacável.
A princípio, apresentando Raquel adolescente, ela aparenta involuntariamente desconforto e insegurança, mas nada que a comprometa seriamente, diria até que tal fato auxiliou sua representação, afinal, vivenciando uma situação como a da personagem, ela deveria mesmo sentir-se confusa e despreparada.
O único problema quanto à reprodução deste exato período da vida da protagonista se dá no tratamento pouco convincente dado a aparência de Débora. É visível a idade da atriz, ainda mais quando ela interage no colegial. Por outro lado, na fase adulta, eu não consigo ver ninguém mais apropriado que ela para interpretar tal papel. Destaque também para o seu físico que não poderia estar em melhor forma, nem mais exuberante. É elogiável a absorção e dedicação que ela teve com a personificação de Bruna.

Enfim, o filme termina de forma aceitável, diria até que elegante, somando aí mais um ponto para o cinema nacional que não tem feito feio nos últimos anos.
Eu não poderia ser muito exigente no tocante a parte técnica, até porque a proposta do filme é expor a vida de uma garota de programa que "se regenerou" e alcançou fama. O que se espera de uma história assim, foi visto aqui, com certeza. Só isso é suficiente para prestigiarmos a projeção.

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