
Em primeiro lugar, esqueça Rambo, Macgyver, ou até mesmo o Neo da trilogia “Matrix”. O mais novo e absurdamente inverídico herói se chama Wesley Gibson!
Lembram-se do inofensivo Senhor Tumnus, o Fauno do filme “Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, pois é... ele é Wesley Gibson!!
A estória do filme é a seguinte: o supracitado jovem Wesley (James McAvoy) mora em uma pocilga muito mal localizada; tem um emprego estafante; uma namorada que lhe trai com seu melhor amigo; e ainda por cima sua personalidade é tão débil a ponto dele consentir tudo e qualquer coisa, se consolando com antidepressivos.
O que ele não sabia até então é que seu pai, o qual ele não conheceu, foi morto enquanto trabalhava para uma fraternidade de matadores que tem como objetivo aniquilar todos os assassinos que o destino os disponibilizar. O mais interessante é que quando tudo parecia não ter mais jeito, a tal liga vem à procura de Wesley para transformá-lo em um assassino tão bom quanto seu pai, impondo-lhe ainda a incumbência de matar o homicida do mesmo.

O início do filme é interessante; mostra realmente como a vida de Wesley é vazia, metódica e angustiante. Seus quase- colapsos diários demonstram bem o nível de estresse do personagem, muito bem transmitidos pelo fauno... quero dizer, pelo ator James McAvoy.
A mudança brusca e involuntária na vida de Wesley, nunca mais será esquecida por ele que, agora é caçado e tem a obrigação de tornar-se apto para matar da forma mais hábil possível – tipo, algo como arrancar as asas de uma mosca com tiros não dão nem pro cheiro.
Então, sem muitas opções, ele ingressa nessa aventura com todo afinco.
A partir daí, ele, por intermédio dos membros da tal fraternidade, começa a passar por um tipo de treinamento nada ortodoxo, que consiste em ser esfaqueado e torturado de todas as maneiras que desejarem.
Para que a recuperação do rapaz seja eficaz e rápida, eles o imergem em uma espécie de sebo curativo que em questão de horas o deixa “novo em folha”. E isso acontece várias vezes, pelo fato de seu treinamento ser intensivo (leia-se constante).
Num período de poucas semanas, Wesley passa por uma transformação idiossincrática de dar inveja a qualquer um.

“O procurado” simplesmente desafiou qualquer lei existente, desde a lógica às leis da física. E pode ter certeza que o longa não é ambientado em um plano virtual como em “Matrix” – este que deu margens aos absurdos visuais no gênero.
Pelo menos, o universo de Neo mantém a decência de defender uma realidade antinatural, ao contrário de “O procurado” que, descaradamente, apela para todo o tipo de recurso surreal dentro de nosso universo normalesco.
Eu não me espantaria se os personagens do nada começassem a voar, ou soltar fogo pelas ventas. Afinal, pelo que foi apresentado, estaria totalmente adequado ao script.
Quanto às atuações, o protagonista James McAvoy não decepciona totalmente. Ele tem expressão, é esforçado, mas não passa credibilidade como ator de ação. Ao contrário de Angelina Jolie que está totalmente à vontade em seu papel. Personificando uma mulher bruta e de poucas palavras, o máximo que ela precisa fazer é exalar uma hostil sensualidade, e a faz com maestria, mesmo já não estando tão bonita como antes.
Agora, quem não teve oportunidade de desenvolver bem seu personagem foi Morgan Freeman (ainda que importante para a trama).

O maior desgosto que o filme causa é sua irrealidade exasperada mesmo. Tudo bem que o filme é de ação, mas até mesmo a ficção precisa de limites. Constrange passar boa parte do filme exclamando interjeições do tipo “aaahhh, que isso!!”. Entretanto, pode-se aproveitar alguma coisa de “O procurado”.
O que eu mais gostei foi às reviravoltas do último ato: bem imprevisíveis. Aliás, inesperada mesmo foi a cena de Wesley utilizando-se de inúmeros ratos numa tentativa de vingança, que não me cabe contar aqui. Eu só vi tantos ratos assim no excêntrico longa "A Vingança de Willard".
E pra concluir, o maior acerto do filme foi evitar clichês, como acentuar o drama do personagem central, ou criar um romance entre o mesmo e a mocinha da vez.
O filme, na medida do possível, diverte, mas peca, como já disse anteriormente, pelo demasio dos efeitos e das situações. Por isso, particularmente eu não gostei, mas não deixo de recomendar como entretenimento fácil.
Entre tantos conceitos equivocados do filme, fica a pérola final: se você não sabe o que fazer de sua vida, pegue uma arma e mate todos aqueles que te perturbam.
Infeliz inspiração... Como se o mundo já não fosse violento o bastante.
