29 dezembro 2009

Filme "ARRASTE-ME PARA O INFERNO"

Logo que foi lançado, devido às opiniões divergentes, eu não me interessei em assistir a este pseudo-terror intitulado como “Arraste-me para o inferno” (Drag Me to Hell), mas como tenho obsessão pela sétima arte, eu fiquei sem opção e tive que ver esta pérola.
Minha primeira impressão: decepção! Isso mesmo, eu sei que é um filme altamente subjetivo para Raimi, como uma espécie de auto-homenagem ou nostalgia de carreira, mas não me impressionou.
E já adianto: minha visão sobre o filme tem estrita relação com meu gosto pessoal. Eu nunca me identifiquei com filmes do subgênero terror-trash, nem quando estavam no auge, que dirá agora na Era dos “remakes – adaptações - plágios - cinematográficos”.

A estória é sobre Christine, uma jovem gerente de crédito bancário, que passa a ser atormentada por um demônio, resultado de uma maldição lançada contra ela por intermédio de uma senhora.
Tudo isso se dá por ser Christine a responsável pela negação de um empréstimo solicitado pela tal idosa, fazendo com que a mesma perca assim sua casa pela falta de pagamento da hipoteca. Por tal motivo, o culmine dessa represália sobrenatural é buscar Christine dentro de três dias para “arder” no inferno.

Bom, o inegável talento de Raimi, o diretor e roteirista aqui, foi reconhecido por volta dos anos 80, graças ao filme “A morte do demônio”. Talvez, por isso a recepção do público foi tão calorosa no que diz respeito a “Arraste-me ao inferno”, pelo fato de Raimi ter se mantido longe dos filmes de horror por um considerável tempo – motivado por seu empenho no projeto “Homem-aranha” –, marcando por meio deste seu retorno ao terror (ou a espécie alternativa do mesmo, criada por ele).
O prólogo do filme já nos dá referência de que este longa nos remeterá à época do debute de Raimi no mundo do cinema.
E por tal motivo eu até entendo que a maioria dos espectadores assimilou a intenção, pode-se dizer, intrínseca de Raimi com esse filme, porém, ainda assim não vejo isso como razão para tanta incúria por parte dele com a produção.

O filme tem um roteiro interessante, digamos até criativo e parcialmente bem montado, contudo, totalmente exagerado e picaresco.
As continuações de “A morte do demônio” que, no Brasil são conhecidos como “Uma noite alucinante 2 e 3”, tinham essa pegada cômica no roteiro, mas não era esquecido em nenhum momento o seu maior objetivo como representante do terror: assustar.
Em “Arraste-me para o inferno” não se vê nada além de sustos regados por recursos burlescos, causando um confronto comprometedor entre riso e medo. O excesso de situações versadamente repugnantes mostra que o diretor não perdeu a mão, mas sim, a noção de limite nesse quesito – o “beijo” que Christine recebe da velha, envolvido por um líquido esverdeado, é extremamente desagradável de se presenciar.
Constantemente o espectador é bombardeado com cenas asquerosas que se desandam em uma comédia descabida. O que deveria ser uma reminiscência da carreira de Raimi, acaba não passando de um deboche com seu próprio estilo.
Uma coisa é certa, poucos filmes de terror conseguem a façanha de inserir humor ao roteiro sem prejudicar a tensão. Definitivamente, “Arraste-me para o inferno” não se enquadra nesse aspecto.

Voltando-se agora à presença de Alison Lohman (“A lenda de beowulf”) como protagonista, eu posso afirmar que sua representação facécia ficou “bem ajustada” a proposta do filme. Não estou dizendo que ela seja uma má atriz, mas ela só precisou manter-se o filme todo com uma expressão de pavor. Sem contar que ela não se enquadra ao perfil de bancária como propõe o filme.
Ah, e não é só ela, grande parte do elenco não tem uma figura adaptável ao papel que lhe cabe, a não ser Lorna Raver, ao encarnar a velha odiosa e nada higiênica da estória, com sua performance brilhante e convincente. Ela conseguiu causar os mais variados sentimentos negativos em mim com relação à sua personagem – otimamente caracterizada, por sinal.

Já a trama, bastante genérica e de desfecho previsível, lembra alguns outros títulos cinematográficos tão senis quanto os filmes do extinto programa televisivo da Rede Bandeirante, o “Cine Trash”. Se isso é um ponto favorável, preciso rever meus conceitos.
Outros fatores que me incomodaram muito nesta projeção foram: o áudio constantemente destoado pelo som alto; os erros plásticos absurdos de continuidade em algumas cenas; e alguns efeitos especiais totalmente parcimônicos.
É aí que entra o tal argumento defensivo de muitos: o supracitado diretor estava querendo reviver os tempos de seu início de carreira, utilizando meios similarmente limitados aos existentes da época.
Tá, eu já entendi, só que isso seria aceitável se o filme fosse definitivamente uma sátira, mas não é. Isso não justifica a utilização de métodos obsoletos e o clima histriônico e antiquado da estória. Não preciso nem sequer citar a intolerável bigorna que aparece do nada (só assistindo para entender quão vil é a cena).

Todos sabem que o foco dos filmes de terror de hoje é totalmente distinto dos anos 80, época em que nada era tão crível no tocante a arte de amedrontar. A filosofia era: quanto mais sangue e mais explicitasses nas cenas, melhor. Entretanto, ainda mantenho minha opinião sobre a incoerência do filme. Sinceramente não consegui me envolver, mesmo sendo ele esforçado em entreter o espectador. Assistir algo somente para rir, quando na verdade a sensação deveria ser outra, sob a única recomendação de “não se levar a sério”, não combina com minha concepção de diversão. A categoria “comédia” é mais apropriada a esta visão.
Como disse antes, comédia e terror são gêneros que esporadicamente combinam, e aqui a relação dos dois, a meu ver, não teve êxito.
Também, um filme em que se tem a presença de Justin Long (“Ele Não Está Tão a Fim de Você”) seria demais pedir algo mais sério e definido. Apesar de sua presença no semi-assustador “Olhos famintos”, sua filmografia é marcada por filmes de caráter cômico, então... dizer mais o quê?

Concluindo, eu não consegui aproveitar o filme, mas não posso simplesmente denegri-lo, como também não posso recomendá-lo com todas as condecorações. Existem muitos que irão aproveitar bem o longa, já eu, não consigo indicá-lo sem antes alertar que não é um filme para ser relevado (mesmo!!).
Se você, leitor, é do tipo que curte rir de momentos bizarros não importando o contexto, este é “ô” filme, caso contrário, você se decepcionará como eu, mesmo compreendendo que "Arraste-me para o inferno" foi totalmente intencional em suas falhas.


11 novembro 2009

Filme "MEU TRABALHO É UM PARTO"

Lindsay Lohan já foi uma "adolescente em crise”, talvez por essa razão, nesses últimos anos ela optou por se mostrar uma adulta inconsequente.
Após seus desvarios alcóolicos, tendo como efeito inúmeros escândalos sociais, Lindsay parece não ter mais alternativa quando escolhe seus filmes. É um fracasso seguido de outro, sempre marcado por películas de baixo orçamento e direção inexperiente.
A jovem hoje, fisicamente mais magra e menos bonita – resultado de uma vida desregrada –, perdeu sua imagem “cuti cuti” de quando estrelava filmes produzidos pela Disney.
Em relação a isso, só posso dizer: “Lindsay Lohan não é mais aquela, olha a cara dela...”. A paráfrase perfeita pra definir a atual condição da carreira da loirinha.
Está certo que o intuito do comentário é falar sobre o mais novo filme de Lindsay, mas é necessário ter um mero vislumbre de sua vida pessoal, para entendermos o porquê de sua decaída na profissão.

Bom, o título do longa é uma tradução espertinha, mas nada original: “Meu trabalho é um parto” (Labor pains, 2009).
O roteiro conta a estória de Thea, uma jovem que a se ver ameaçada pelo desemprego na editora em que trabalha, inventa para seu chefe que está grávida, visando à idéia de não ser despedida devido a sua condição de “gestante”. Porém, sem pensar no que isso acarretará, ela mantém a farsa e passa a tirar proveito da situação em todos os sentidos.

Pra começar, o filme é uma bomba! Pois é, não há termo mais apropriado que este para definir esta produção. A estória é fraca, mal desenvolvida e muito sem graça. Quase a mesma descrição do desempenho sofrível de Lindsay no papel principal.
Tudo bem que ela nunca foi referência no quesito atuação, mas nota-se facilmente seu constrangimento ao representar à personagem que, mais deslocada impossível!
E mesmo tendo uma premissa aparentemente interessante, infelizmente, por conta da direção preguiçosa, tudo se tornou extremamente parco, pra não dizer, medíocre.
Os diálogos são superficiais, a fotografia e a arte nada inspiradas, e o elenco secundário não serve nem como suporte. Sendo assim resta somente Lindsay para carregar o filme, o problema é que ela não tem mais carisma pra isso.

A atriz Cheryl Hines ("Férias no trailer"), pouco aproveitada aqui, começa bem com sua presença ligeiramente divertida de personagem coadjuvante, no entanto, sem mais nem menos sua participação se torna esporádica, limitando-se a proferir falas sem importância.
As cenas, então, sob condição muito pior, destacam-se pelo aspecto amador e pela falta de agilidade em sua composição. Isso porque o posicionamento da câmera parece estar estagnado, filmando sempre o mesmo ângulo dos atores, como se estivessem em um episódio de sitcom – com exceção de uma tomada rápida no final feita pelo recurso de uma grua muito mal direcionada, o que também é uma informação irrelevante.

Entre tantos problemas técnicos e estruturais, como a trilha sonora quase nula e de baixo volume que deixa tudo ainda mais monótono, o filme simplesmente se arrasta e não atinge um ponto alto sequer.
E como se não bastasse, o desfecho se diverge em mais uma trama do subgênero romântico, que tenta utilizar a comicidade como distração, para culminar em mais um amor adocicado, manipulado e sem química. Pode até se dizer que este era o detalhe que faltava para tornar o enredo ainda mais debilitado.
Agora, pra piorar (!!!), nos momentos finais o roteiro tende a trazer alguns resquícios de drama, o que é óbvio à tentativa frustrada, se nem mesmo a comédia, que deveria naturalmente estar inserida à estória, funciona aqui.

Sem mais, “Meu trabalho é um parto” se conclui de forma ingênua, clichê e com todas as limitações imagináveis, entrando aí para o ranking dos fracassos cinematográficos de Lindsay Lohan, conseguindo superar até mesmo o terrível “Eu sei quem me matou”.
Depois disso só posso dar um conselho: prefira entrar em trabalho de parto a assistir este filme.


08 novembro 2009

Filme "GAROTA INFERNAL"

Ao tornar-se conhecida por co-estrelar o blockbuster de 2007 “Transformers”, Megan Fox se tornou referência em sensualidade, graças à silhueta perfeita e sua beleza estonteante. E porque não dizer, tornou-se por este motivo a garota-sensação na época.
Agora em 2009, após a sequência de “Transformers”, a morena volta protagonizando este terror teen intitulado como “Garota infernal” (no original “Jennifer's Body”), tornando-a novamente o foco da vez.
Com certeza, essa foi a oportunidade de Megan Fox provar ser mais do que um rostinho (e corpinho) bonito. Por certo não decepcionou, mas também não passou de uma performance mediana.

Outra que ficou conhecida na mesma época que Megan, foi Diablo Cody, a ex-stripper que se “redimiu” da profissão se tornando roteirista, tendo seu debute muito bem reconhecido com o Oscar de “melhor roteiro original” por seu trabalho em “Juno”, película estrelada pela notável Ellen Page.
Desta vez, Diablo é responsável pelo roteiro de “Garota infernal”. O filme foi aguardado “em cólicas” por muitos, alguns para verem Megan em um papel promissoramente sexy, outros para confirmarem se o talento de Diablo foi sorte de principiante.
Adianto que o filme não é de todo banal, mas não merece ser visto pelos motivos acima. Primeiro, a sensualidade de Megan, mesmo com ela se insinuando desde a primeira tomada, está um pouco comedida e sombria - detalhe este nada estimulante pra mim. Já o roteiro de Diablo, absurdo e fetichista, não é de todo ruim, mas nada comparado à “Juno”.

A estória é sobre Jennifer, uma “cheerleader” de colegial popular e sedutora, que mexe com o imaginário da rapaziada do colégio. Como companhia ela tem sua melhor amiga Needy (Amanda Seyfried), uma loirinha permissiva e com pinta de nerd.
Certo dia, uma aspirante banda de rock ao chegar à cidade atrai a atenção de Jennifer, provavelmente envolvida pela idéia de se relacionar com um cara da “cidade grande”.
Ela e sua passiva amiga Needy vão até o bar no qual rolará a apresentação, chegando lá o local é tomado por um incêndio, e sem que perceba isso, por estar estaticamente cativada pelo vocalista da banda, Jennifer é salva por Needy que, após livrá-la de ser carbonizada, não consegue impedir que Jennifer vá embora com a banda numa van.

A partir deste ocorrido, eventos estranhos começam a acontecer, envolvendo corpos de garotos mutilados por aparentes mordidas.
Needy, na mesma noite do acidente no bar, presenciou dentro de casa uma cena um tanto sobrenatural de Jennifer, após sua volta do "passeio" com a banda, então, ela começa a ligar os pontos e por fim, deduz ser Jennifer a responsável pelos assassinatos, tendo logo após a confirmação pela boca da própria, quando esta confessa ter sido vítima de um ritual satânico feito pelos roqueiros.
Os integrantes da tal banda de rock, certos de que por via do tal sacrifício conseguiriam fama (e conseguem!), erram na escolha da oferenda por não ser esta virgem, e como consequência abrem espaço para o aparecimento de um demônio no corpo da jovem moça. E agora, para manter-se forte, a criatura precisa se alimentar. Qual é o cardápio? Obviamente, garotos.
Como resultado desta aventura pode-se esperar mortes, sexo e muitas tiradas cômicas.

Bom, a meu ver a maior injustiça do filme é que Megan Fox leva todos os louros do longa, quando, na verdade, quem brilha é Amanda Seyfried, a Needy da estória.
Megan apresenta uma boa atuação, embora, para quem seja consideravelmente bonita não há dificuldade em instilar sensualidade, enquanto Amanda tem mais expressão e uma representação mais precisa.
Já no que diz respeito ao roteiro, o talento de Diablo é irrevogável, porém, a inclusão de humor nos diálogos, apesar de inteligentes e afiados, comprometem o terror, deixando uma pérfida impressão no tocante ao gênero.

Os adolescentes – como público alvo – serão brindados com uma trilha sonora típica à idade deles e um clima sugestivamente picante, preenchido por uma beldade de idade adulta, interpretando uma adolescente (fato muito comum em seriados) mais que oferecida. Um prato cheio pra galerinha dos hormônios.

Por outro lado, sob uma visão não tão otimista e pouco apaixonada, "Garota infernal" não cumpre o que promete por meio do thriler, o desenvolvimento também é meramente superficial, a fórmula não é original, não assusta, e a cena mais marcante, absolutamente, se dará pelo beijo super caliente de Megan e Amanda (pura apelação já que não acrescenta nada à estória)...
No mais, filmes assim ganham evidência por mostrarem ídolos adolescentes fora de papéis que os consagraram. O mesmo ocorreu com Vanessa Hudgens em “High School Band” e Zac Efron em “17 outra vez”. Só existem para angariar mais fama aos astros teens. E a bola da vez é Megan Fox.


01 novembro 2009

Filme "O MISTÉRIO DAS DUAS IRMÃS"

O gênero terror na visão oriental, quase numa escala unânime, sempre é explorado sob temas sobrenaturais que se restringem à figuras fantasmagóricas.
Por sempre usarem a mesma fórmula, não é de hoje que se desgastou o sub-gênero “terror psicológico”.
No mesmo caminho, temos os produtores de Hollywood que há anos, incentivados estritamente pela bilheteria, clonaram o tal “padrão de terror oriental”, e é só o que há desde então (maldita seja a influência de “O chamado”!!!).
Por este motivo, os filmes de terror (e não somente esta categoria) tem se tornado infelizmente uma espécie de compilação generalizada.

O filme “The uninvited”, que no Brasil tornou-se “O mistério das duas irmãs”, exemplifica bem essa era desprezível que impera em Hollywood.
O longa é uma adaptação americana da produção sul-coreana intitulada de “Janghwa, Hongryeon” (Nos EUA é “A Tale of Two Sisters” ) lançada em 2003. No Brasil, o original sul-coreano ganhou a tradução de “Medo”.

O roteiro é obviamente um carbono do oriental. Alteram-se os nomes, as locações, mas a essência da estória e dos personagens continua intacta.
A sinopse é esta: Anna (Emily Browning) e Alex (Arielle Kebbell) são irmãs e muito apegadas. Anna, a caçula, após presenciar a morte da mãe doente – resultado de uma explosão ocorrida no quarto em que a mesma costumava ficar –, se vê em um internato tentando se reabilitar do trauma, sem conseguir ao certo encaixar as razões pelas quais ela foi parar lá. Enquanto Alex tem certeza de que sua mãe foi assassinada pela madrasta Rachel (Elizabeth Banks), que trabalhava como enfermeira da mãe convalescente no local.
Ambas ao voltarem, simultaneamente, para a casa do pai, tentam desvendar o mistério da morte, a fim de revelar o responsável.
Nesse meio tempo, Anna passa a ver o fantasma de sua mãe que, parece indicar-lhe as pistas necessárias para se concluir o mistério. Devido aos indícios e ao comportamento estranho da madastra, as suspeitas contra ela só aumentam.

Bom, voltando à atenção ao roteiro, o mesmo possui alguns ingredientes básicos que, na verdade, servem mais como regras mesmo: a casa velha que faz ruídos; os sustos previsíveis; o corredor mal iluminado; o lago próximo a casa; a mocinha com roupinhas sem graça, de personalidade ingênua e curiosa; a nímia quantidade de sangue nas cenas, e por aí vai. Tudo muito aborrecido.
É certo que muitos filmes de terror consagrados também fizeram uso de alguns desses clichês, o problema é que essas produções infames extrapolam. Um bom roteiro, personagens bem elaborados, enquadramentos precisos, o uso da sonoridade como um apoio e não como a razão, são recursos em extinção nos filmes de terror.

Quanto à trama, esta se desenrola de forma lenta (outra característica irreparável do gênero), com um susto óbvio aqui, outro ali, além da presença de algumas figuras assustadoras. E logo o filme atinge seu ápice, seguindo todos os moldes já experimentados – vimos recentemente esse mesmo padrão sendo utilizado em “Evocando espíritos” – para render-se a conclusão.
E é aí que entra o único "escape" do longa: seu desfecho inusitado; a única razão para não o eliminarmos de vez do rol de filmes que, pelo menos entretem, mesmo quando inúteis.
O problema é que "O mistério das duas irmãs" deixa transparecer descaradamente seu único interesse que é apenas surpreender no final, independente do quanto tenha sido pífio o enredo até chegar ali.

É certo que a reviravolta do final é realmente surpreendente, com certeza méritos da inspiração de “O sexto sentido" (1999), porém, não há justificativa para um filme não se importar com seu contexto, somente para entregar um fim inesperado.
“Os outros" (2001) também utilizou uma tática similar para entregar algo imprevisível, mas isso foi feito de forma bem sofisticada e autêntica, sem deixar em nenhum momento sua identidade ser ofuscada.
Essa é a diferença entre utilizar uma referência e depender totalmente dela, como fez “O mistério das duas irmãs”.

Portanto, ao que parece, os irmãos Guard não levaram muito em conta o fato de dirigirem uma estória já existente, pois, ao recriarem a trama totalmente dependente do final (sem dúvida a parte mais relevante), fazem com que o filme só não seja comprometido caso o espectador não opte por ver primeiro a obra original sul-coreana.
Pelo sim pelo não, se isso acontecer, nada mais se salva, nem sequer o elenco...
E por falar em elenco, temos Elizabeth Banks interpretando a madrasta e comprovando que esse tipo de papel não se encaixa em sua pessoa. Enquanto a insossa Emily Browning, sendo aqui a mais convincente ao representar, erra feio na composição desleixada da personagem (que cabelo e que roupas são aquelas???). Já Arielle Kebbel continua sendo a mesma "garota - coadjuvante - de - filmes - inexpressivos".

Por fim, concluindo o paralelo entre o remake e o original, alguns podem não concordar, mas a obra sul-coreana dá um banho de superioridade. Os elementos utilizados por eles para se provocar o medo são bem mais elaborados, desde o clima aterrorizante da estoria às críveis atuações. Com isso, a mediocridade americana, por se intrometer em um estilo que não é seu, só é mais uma vez ressaltada.
Eu, particularmente, acredito que Hollywood só tem insistido em dar vida a essas "bombas" por um único e infeliz motivo: ainda há um considerável público pra isso. Até mesmo quem não curte, como eu, acaba contribuindo para com a bilheteria, mesmo que involuntariamente...
Por isso, eu imploro: não seja você mais um.


Filme "A ORFÃ"

O filme “A órfã” (Orphan) não é o tipo de película que atrai pelo cartaz – o deste está especificamente medíocre –, muito menos pela sinopse. Sabe por quê?
Que novidade há em filmes sobre órfãos hostis, ou crianças macabras? A se julgar por outros títulos lançados que aborda o tema, nenhuma.
Porém, o diretor Jaume Collet-Serra provou que é possível repaginar o gênero, ainda que não seja de forma totalmente original.

Na estória, temos o casal Kate e John, tentando se readaptar a rotina de casal, após superarem problemas como infidelidade e dependência alcóolica.
Dentre tantos problemas, Kate também sofreu um aborto, e por tal motivo, ela e John decidem adotar uma criança para preencher essa lacuna emocional, apesar de acharem conforto na presença de seus dois filhos biológicos, Daniel e a pequenina Max que é também deficiente auditiva (consequentemente muda).
Então, ao aderirem a adoção, entra em cena Esther, uma menina de 9 anos, que possui um aguçado intelecto, acompanhado de talentos extraordinários, e um gosto peculiarmente nostálgico quanto à indumentária.
A partir da presença de Esther na casa, uma série de eventos perigosamente incomuns passa a ocorrer. E pelo comportamento inicialmente introvertido e suspeito da menina, Kate passa a acreditar que ela esteja envolvida nos tais acontecimentos; o problema é que nem seu marido, nem sua terapeuta, acreditam em sua versão: há algo errado com Esther.

Bom, a primeira lembrança que veio à minha mente ao assistir “A órfã” foi a de “O anjo malvado” (The good son, 1993) estrelado pelo suplantado Macaulay Culkin – elogiável como o vilãozinho do filme na época.
O filme também é ambientado no inverno, com direito a casa na árvore e a referências de acidentes ocorridos em lagos congelados.
Embora, mesmo com semelhanças fáceis de detectar, o espaço cronológico entre eles torna evidente as particularidades e os avanços do tema desde então.
“O anjo malvado” é um filme mais realista e mais comedido no tocante à violência explícita, enquanto “A órfã” recorre a um nível de sadismo e tensão pouco explorados em filmes sobre sociopatas infantis.
Desde o prólogo é possível notar que o longa não se trata de um suspense moderado.

O estilo do diretor Jaume no gênero, pode ser conferido anteriormente na descartável refilmagem “A casa de cera”, marcado por sua pouca consistência contextual, que tenta se compensar pelo visual perturbador que compõem suas cenas.
Em “A órfã” podemos começar por todas aquelas que envolvem a supracitada Esther, interpretada pela precoce Isabelle Fuhrman.
A atriz juvenil que, na verdade, tem 12 anos, e é o que há de melhor no filme. Normalmente um ator mirim ganha evidência na mídia quando este demonstra uma vanguarda habilidade em transmitir emoção. No caso de Isabelle, ela não precisa ser chorosa como Dakota Fanning, ou tão introspectiva como Halley Joel Osment, para o espectador perceber o quão insigne ela é.
Ela realmente demonstra com clareza a frieza e a dissimulação necessária para compor uma personagem tão desumana. E o melhor: ela realmente assusta.

Já a pequenina Aryanna Engineer, como a dócil Max, é uma graça. Eu me encantei ainda mais por ela ao saber que a mesma é deficiente auditiva na vida real.
Quanto ao elenco adulto, o ator Peter Sarsgaard, como John, está confortável no papel, mas é Vera Farmiga que convence melhor no quesito atuação (talvez por seu papel ser notavelmente mais exigente).

Num apanhado geral, pode-se dizer que o filme realmente não é autêntico e abusa dos clichês mais característicos. Até as personalidades de cada personagem é um verdadeiro revival de estereótipos: A mãe depressiva e dedicada, traumatizada por motivos pessoais, que tenta reprimir algum tipo de vício (como bebida, cigarro, ou remédios...); a criança que presencia tudo, mas que, por algum empecilho, não pode contar; o pai indiferente que põe em descrédito os alertas da esposa; o filho ciumento que se torna alvo fácil por sua prepotência; uma autoridade (religiosa, ou civil) ligada à criança que se dispõe a avisar a família...
Tudo muito proposital para que no momento certo cada um tenha sua dose de participação nos sustos e nas surpresas.
Ou seja, é o típico perfil de filmes em que o suspense está centrado na figura de uma criança misteriosa.

Enfim, sem querer parecer contraditório, “A órfã” é uma boa pedida para um suspense. Não que isso retire o incômodo que há em se ver tantos elementos requentados de obras similares, mas só o fato de ser um filme que apresente uma criança como antagonista, não sendo ela um ser imortal, já é um alívio.
O clima pesado e agonizante – ainda mais, para o elenco infantil que, por sinal, tira de letra – deste suspense progressivo, já garante a diversão. Destaque para o desfecho inopinado da trama.
Há alguns que afirmam que esse ou aquele conseguiu desvendar o filme premeditadamente, todavia, tem que se reconhecer que o final é, ainda assim, inusitado.
Agora, ressalto que assistir “A órfã” pode ser uma influência negativa para pessoas que são impossibilitadas de ter filho, se estas se impressionarem fácil. Afinal, após presenciarem tal experiência, mesmo que fictícia, a adoção poderá não ser mais uma opção para eles.


13 outubro 2009

Filme "O PROCURADO"

Sabe aquele processo de explosão de hormônios que todo garoto de 12 anos costuma passar, em que o gosto por tiros, socos, lutas ou qualquer outra expressão de violência parece ser o melhor que há? Então... O diretor Timur Bekmambetov ("Guardiões da noite"), parece ainda estar vivendo essa fase. E para ratificar isso, ele deu vida a esta projeção intitulada de “O procurado”, um dos filmes de ação mais “nonsense” que já vi.

Em primeiro lugar, esqueça Rambo, Macgyver, ou até mesmo o Neo da trilogia “Matrix”. O mais novo e absurdamente inverídico herói se chama Wesley Gibson!
Lembram-se do inofensivo Senhor Tumnus, o Fauno do filme “Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”, pois é... ele é Wesley Gibson!!

A estória do filme é a seguinte: o supracitado jovem Wesley (James McAvoy) mora em uma pocilga muito mal localizada; tem um emprego estafante; uma namorada que lhe trai com seu melhor amigo; e ainda por cima sua personalidade é tão débil a ponto dele consentir tudo e qualquer coisa, se consolando com antidepressivos.
O que ele não sabia até então é que seu pai, o qual ele não conheceu, foi morto enquanto trabalhava para uma fraternidade de matadores que tem como objetivo aniquilar todos os assassinos que o destino os disponibilizar. O mais interessante é que quando tudo parecia não ter mais jeito, a tal liga vem à procura de Wesley para transformá-lo em um assassino tão bom quanto seu pai, impondo-lhe ainda a incumbência de matar o homicida do mesmo.

Como podem ver, não é nada demais. É uma estória simplista e nada inovadora... isto é, até vermos a composição das cenas.
O início do filme é interessante; mostra realmente como a vida de Wesley é vazia, metódica e angustiante. Seus quase- colapsos diários demonstram bem o nível de estresse do personagem, muito bem transmitidos pelo fauno... quero dizer, pelo ator James McAvoy.
A mudança brusca e involuntária na vida de Wesley, nunca mais será esquecida por ele que, agora é caçado e tem a obrigação de tornar-se apto para matar da forma mais hábil possível – tipo, algo como arrancar as asas de uma mosca com tiros não dão nem pro cheiro.
Então, sem muitas opções, ele ingressa nessa aventura com todo afinco.

A partir daí, ele, por intermédio dos membros da tal fraternidade, começa a passar por um tipo de treinamento nada ortodoxo, que consiste em ser esfaqueado e torturado de todas as maneiras que desejarem.
Para que a recuperação do rapaz seja eficaz e rápida, eles o imergem em uma espécie de sebo curativo que em questão de horas o deixa “novo em folha”. E isso acontece várias vezes, pelo fato de seu treinamento ser intensivo (leia-se constante).
Num período de poucas semanas, Wesley passa por uma transformação idiossincrática de dar inveja a qualquer um.

E como se não bastassem todos os detalhes incabíveis e fantasiosos com relação ao personagem principal, acredito que qualquer um que tenha ouvido falar do filme, sabe que aqui carros dão piruetas e caem de pé dando continuidade ao percurso; balas fazem curvas; os seres humanos resistem a qualquer ferimento; atravessam prédios distantes só no impulso de um salto; são irredutíveis à quedas de precipícios; brincam sobre trens em alta velocidade; tudo de forma bem “natural”.
“O procurado” simplesmente desafiou qualquer lei existente, desde a lógica às leis da física. E pode ter certeza que o longa não é ambientado em um plano virtual como em “Matrix” – este que deu margens aos absurdos visuais no gênero.
Pelo menos, o universo de Neo mantém a decência de defender uma realidade antinatural, ao contrário de “O procurado” que, descaradamente, apela para todo o tipo de recurso surreal dentro de nosso universo normalesco.
Eu não me espantaria se os personagens do nada começassem a voar, ou soltar fogo pelas ventas. Afinal, pelo que foi apresentado, estaria totalmente adequado ao script.

Quanto às atuações, o protagonista James McAvoy não decepciona totalmente. Ele tem expressão, é esforçado, mas não passa credibilidade como ator de ação. Ao contrário de Angelina Jolie que está totalmente à vontade em seu papel. Personificando uma mulher bruta e de poucas palavras, o máximo que ela precisa fazer é exalar uma hostil sensualidade, e a faz com maestria, mesmo já não estando tão bonita como antes.
Agora, quem não teve oportunidade de desenvolver bem seu personagem foi Morgan Freeman (ainda que importante para a trama).

O roteiro, por fim, tem bastantes furos, que tentam ser compensados com o excesso de efeitos especiais (muito bons por sinal), e a narrativa apressada. Tantos os cortes, como as cenas, tudo muito corrido, mas ainda assim funcional.
O maior desgosto que o filme causa é sua irrealidade exasperada mesmo. Tudo bem que o filme é de ação, mas até mesmo a ficção precisa de limites. Constrange passar boa parte do filme exclamando interjeições do tipo “aaahhh, que isso!!”. Entretanto, pode-se aproveitar alguma coisa de “O procurado”.
O que eu mais gostei foi às reviravoltas do último ato: bem imprevisíveis. Aliás, inesperada mesmo foi a cena de Wesley utilizando-se de inúmeros ratos numa tentativa de vingança, que não me cabe contar aqui. Eu só vi tantos ratos assim no excêntrico longa "A Vingança de Willard".

E pra concluir, o maior acerto do filme foi evitar clichês, como acentuar o drama do personagem central, ou criar um romance entre o mesmo e a mocinha da vez.
O filme, na medida do possível, diverte, mas peca, como já disse anteriormente, pelo demasio dos efeitos e das situações. Por isso, particularmente eu não gostei, mas não deixo de recomendar como entretenimento fácil.
Entre tantos conceitos equivocados do filme, fica a pérola final: se você não sabe o que fazer de sua vida, pegue uma arma e mate todos aqueles que te perturbam.
Infeliz inspiração... Como se o mundo já não fosse violento o bastante.


10 outubro 2009

Filme "EU ODEIO O DIA DOS NAMORADOS"

Falar sobre os conceitos de relacionamento ensinados pelas comédias românticas soa tão clichê quanto o próprio gênero. É quase impossível fazer uma resenha que se distancie do óbvio. Mas vamos lá...

A mocinha da estória, Genevieve (Nia Vardalos de “Casamento grego”), é dona de uma floricultura e “adora” o Dia dos Namorados pelo aumento das vendas de flores. O intrigante é que ela mantém um embate intrapessoal entre relacionamento sério e a tal data comemorativa.
Genevieve elaborou um método que consiste em ter apenas cinco encontros com cada cara que a interessar, e assim, segundo sua teoria, a felicidade e o romantismo são ininterruptamente garantidos, graças a casualidade, já que esse espaço restrito de tempo não dá margens para brigas, envolvimento, dor, ou qualquer tipo de mágoa, podendo ela no fim dos 5 encontros partir pra outra sem culpa.
Mas no fundo, a personagem evita relacionamentos por estar profundamente traumatizada, graças às experiências frustrantes que presenciou, por isso ela criou essa espécie de “mecanismo de defesa”. E assim, por causa desse jogo do amor, ela nunca se envolveu o suficiente ... até conhecer Greg (John Corbett).

No que tange ao roteiro, mesmo se rendendo aos clichês, é possível se divertir com o bom gosto e a elegância das cenas.
Os momentos de Genevieve com os dois homossexuais que com ela trabalham, rendem as partes mais cômicas, sem contar com seus outros amigos um tanto singulares.
Na verdade, os coadjuvantes dão um “Q” a mais. Todos são bons e engraçados. O que parece ter virado uma marca de Nia, pois todos os seus filmes são repletos de personagens secundários que estão ali para reforçarem o humor. Foi assim também com o mais novo filme dela "Falando grego".
O problema é que em "Eu odeio o dia dos namorados", o elenco de apoio não passa de um suporte sem qualquer destaque. O filme é do casal e apenas do casal.

Quanto à protagonista Nia Vardalos, eu a acho agradável, dona de um timming cômico tímido mas funcional, além de apreciar seu indiscutível entrosamento com John Corbett, mas mesmo em seu maior e mais despretensioso sucesso, “Casamento grego”, no que diz respeito à atuação, Nia é confusa e repleta de cacoetes. Poucas de suas expressões transmitem com afinco o que a personagem parece estar sentindo.
Ela me lembra um pouco a atriz brittany murphy, considerada por mim a atriz mais indecifrável no quesito atuação.
Nunca entendi as esgares e o semblante desligado de Brittany, assim como não compreendo o porquê de tantos sorrisos por parte de Nia ao encarnar Genevieve – ela sorri em 90% das cenas, o que soa forçado até mesmo para uma personagem que afirma exaustivamente no longa que está sempre feliz.

Continuando em Nia Vardalos, ela, notavelmente, não é a típica mocinha adequada aos padrões estéticos das indústrias cinematográficas, todavia, com o tempo ela melhorou bastante fisicamente. E o ápice desta melhora é possível ver em "Falando grego".
Voltando agora ao enredo, o filme tem suas pegadas à La “Casamento grego”, desde as gagues até à própria estrutura, principalmente pelo repeteco do casal protagonista.
A interação dos dois continua competente, façanha herdada pela primeira parceira. No entanto, a estória, ainda que desfrutável, é bem mais tépida e apressada.

Já a trilha sonora é um mimo. Bem delicada e romântica, sendo uma das coisas mais apropriada ao clima do filme.
Agora, o ponto mais aborrecido do filme é que as cenas não variam muito, limitando-se a mostrar o casal em seus encontros e mais nada.
Por sorte do espectador, as situações pelas quais eles passam são pelo menos engraçadas. Destaque para o passeio deles numa galeria com quadros bem excêntricos.

A diretora do filme que, no caso, é também a roteirista e a protagonista - pois é, Nia Vardalos quis fazer tudo! -, se esforça para entregar uma bela produção, no entanto, acaba entregando um final previsível e fastidioso do jeito que Hollywood gosta.
Por fim, "Eu odeio o dia dos namorados" é simplista, leve, divertido, e tem lá os seus acertos como já citei, mas é graças à química do casal e seus coadjuvantes carismáticos que esta projeção não é um total desastre.

09 outubro 2009

Filme "TRANSFORMERS 2 - A VINGANÇA DOS DERROTADOS"

Como era de se esperar, “Transformers 2 - a vingança dos derrotados” vem com a intenção de ser um dos maiores filmes pipoca de todos os tempos...
E eu não posso discordar, sendo que este é um dos filmes mais exagerado que já vi, em todos os sentidos.

Ao contrário do original, nesta sequência ninguém brilha ou ganha destaque, nem sequer o astro Shia Labeouf como o protagonista Sam. Tudo é ofuscado pelos gigantescos robôs visualmente indecifráveis.
Shia deve ter se sentido em um “revival” do filme “Controle absoluto”, pois mais uma vez, ele simplesmente precisou correr e correr muito (!!) o filme todo.
Em nenhum momento ele pôde explorar mais características da personalidade de seu personagem porque não houve essa abertura por meio do roteiro.
O diretor Michael Bay simplesmente deu uma continuidade simplória e sem nexo a estória do primeiro filme, e recheou o resto do longa com cenas de efeitos especiais extremamente complexas e profusas.
Pois é, ele não fez nada mais que simplesmente apelar para todo o tipo de efeito visual e despejar tudo na tela.

Ainda que a qualidade do gráfico do filme seja o único motivo elogiável, tudo é muito confuso em diversos momentos, como por exemplo, nas lutas e nas transformações - pra não dizer tudo!
Não será surpresa se espectador se perguntar o que está acontecendo em cena ao assistir à massiva presença de peças mecânicas em choque, faíscas, explosões, misturando-se cores, luzes e sons. Características mais do que oriundas se tratando do fútil Michael Bay.

Em relação à trama do filme, não há desenvolvimento contextual algum, somente pirotecnia, nada mais que isso.
O filme é tão apressado na composição de suas cenas que mais parece um thriller estendido (e põe estendido nisso!!). Cansa se deparar com tanta ação banal em uma duração tão prolixa.
Não houve chance também de se criar envolvimento, ou empatia pelos personagens como foi possível no primeiro. Até o próprio desfecho do filme não surpreende, sendo que de fato, não havia mais o que ser mostrado.
Enfim, se o primeiro não tinha um roteiro consistente, aqui é pior! Os escassos enredos foram todos acoplados em um só, formando um mísero compêndio sob uma lógica anacrônica que só serve de prumo para tanto barulho e tantas lutas.

A comicidade fácil e típica do gênero também não é deixada de lado aqui. As tiradas pastelões aqui soam, por incrível que pareça, como um alívio em meio a tanto alvoroço (destaque para uma cena com um aparelho de choque portátil muito engraçada).
Shia Labeouf demonstra melhor seu carisma em cenas cômicas. Afinal, não é nada empolgante para um filme com grande apelo para a ação, ter o herói correndo a todo tempo soltando gritinhos constrangedoramente agudos.
Já a toda boa Megan Fox, mais uma vez como a passiva namorada do mocinho, não faz nada no filme a não ser mostrar-se bela – o que ela faz com competência, claro!
Sempre filmada nos melhore ângulos, a câmera só busca enaltecer sua beleza pra alegria dos marmanjos de plantão.

Alguns furos ao longo do vídeo são gritantes. Uns são bem descarados, como o do personagem Agente Simmons (John Turturro) escalando uma pirâmide (isso mesmo, uma pirâmide!), e em questão de segundos o vemos sair do meio da mesma para o topo, sem mais nem menos.
Outra interessante é a do personagem Sam (Shia), ao ser ferido pelo impacto de uma bomba lançada contra ele, tendo assim a parte esquerda do rosto extremamente machucada; passada algumas tomadas, lá está seu rosto com apenas alguns arranhões. Penso que, talvez, ele tenha adquirido poderes de se regenerar como o Wolverine, vai saber...
E por falar em personagem do “X-men”, até mesmo uma decepticon revestida de aparência humana - pra ser mais exato, como uma insinuante garota - traz à lembrança os mutantes vilões da saga do professor Xavier.

Tem uma cena que de tão pífia me fez chorar de rir: Sam praticamente em uma experiência de quase-morte, com direito a todos os clichês desta situação. Não irei entrar em detalhes para não “estragar” o momento.
Aliás, clichês em nenhum momento são economizados aqui: Corridas em câmera lenta; muitos close up´s; pop rock meloso de fundo; a câmera circulando em traveling; o patriotismo explicito representado pela presença do exército americano; cenas aéreas exageradas, e por aí vai.

Outro fato que incomoda é a surrealidade que Michael Bay dá a estrutura óssea humana.
Shia cai de alturas descomunais e nada lhe acontece! Ah, não, eu não poderia esquecer que ele machuca a mão...
Ele, tipo, poderia rolar despenhadeiros, caminhões caírem sobre ele, e nada lhe aconteceria. Ou melhor, ele machucaria apenas a mão (aff...). Isso, é claro, até vir a próxima tomada para ela estar totalmente curada – falácias dignas de Bay.

Concluindo, Para se aproveitar “Transformers 2 - a vingança dos derrotados” (péssima adaptação do título original), basta desligarem o cérebro e aproveitar as exorbitantes explosões que compõem quase 80 % do filme.
Nem preciso diser que há esta hora a imagem de Shia Labeouf como "nerd" já se tornou indelével , e algum dia, infelizmente, isso pesará na carreira dele.



Filme "A GAROTA IDEAL"

A julgar pela sinopse do filme “A garota ideal” ("Lars and the Real Girl"), eu diria que o dito popular “seria triste se não fosse cômico” cairia como luva para descrever esta projeção. No entanto, ao assistir o filme, eu parafrasearia esta expressão da seguinte forma: “seria cômico se não fosse lindo”.

Vamos então à sinopse para que possam entender o porquê...
Lars, um jovem adulto tímido, não consegue se relacionar com ninguém diretamente. Totalmente recluso, ele mal consegue interagir com seus próprios vizinhos que, no caso, são seu irmão e sua cunhada.
Então em um belo dia, ele aparece com uma boneca de silicone de tamanho real, usada para fins sexuais (mas não no caso dele), a qual ele apresenta como um ser humano, ou para ser mais exato, como sua namorada.
Segundo Lars, a boneca é uma jovem missionária brasileira chamada Bianca que adora crianças. E para dificultar mais, ele pede para o irmão a hospedar, pelo fato de Bianca acreditar no celibato.

Como podem ver a descrição da estória acima não se adéqua ao termo “lindo” que usei anteriormente para classificar a película. Mas acreditem: nada aqui é retratado de forma infame ou bizarra, nem sequer terá cena de humor fácil ou escrachado.
“A garota ideal” não passa de um belo drama, trasvestido de comédia. Até mesmo em seu trailer é possível enganar-se com a idéia de que será mais uma comédia de fim romântico. Mas o interessante é que o espectador só irá se dar conta da real intenção do filme quando realmente o assistir.

As tiradas cômicas e os momentos constrangedores existem sim, mas tudo é muito sutil, sem beirar em nenhum momento o ridículo. E por incrível (e paradoxo) que pareça, o filme pende para um lado tão profundo e denso como poucos filmes conseguem.
A falta de foco em um gênero específico funciona muito bem, por isso “A garota ideial” é tão uniforme em sua mescla de tipos.

Craig Gillespie, com sua ótima direção, marcando aqui seu debute, conseguiu a façanha de reproduzir uma situação embaraçosa e implausível, de forma altamente verossímil e emocionante, indo de confronto à própria impressão inicial.
Aparentemente o longa discorreria por uma linha medíocre, mas bastou cair nas mãos certas para se ter algo bem superior às expectativas.

Já com relação ao elenco, é altamente inspirador ver o minimalismo de cada representação. Os diálogos, as performances corporais, os olhares, as sentimentos exprimidos, tudo muito bem acoplado à trama.
Um integrante destacável deste considerável casting é a jovem Kelli Garner com sua natural e encantadora interpretação. Apaixonei-me por sua personagem. Aliás, todos são igualmente elogiáveis.
Kelli, assim como a maior parte do elenco, consegue conquistar o espectador nos pequenos detalhes, sugerindo em cada gesto uma intenção.
Outros nomes que merecem ser citados são de Emily Mortimer, como a cunhada de Lars, e Paul Schneider, como o irmão.

O roteiro altamente analítico de Nancy Oliver desenrola-se progressivamente, envolvendo o espectador com toda a meticulosidade.
Na estória, os moradores do bairro de Lars consentem em inserir a boneca em suas vidas, tratando-a como um ser literal, tudo para que Lars possa se sentir realizado, aceito e possivelmente “curado”.
Essa valiosa e tocante lição de altruísmo, quase extinta no cinema, é que deixa o filme ainda mais poético e filosófico.

Agora, sem esquecer a melhor parte, temos o espetacular protagonista Ryan Gosling (“Diário de uma Paixão”), que desconcerta qualquer um com sua bela atuação. Confortabilíssimo no personagem, ele transmite com maestria o comportamento complexo, iludente e reprimido de Lars; não é à toa que Ryan foi indicado ao globo de ouro na categoria de melhor ator por este papel.

Enfim, é claro que o filme não é perfeito, tem lá seus momentos exagerados e alguns leves furos, contudo, julgando-o no geral, ele atinge o ápice do que se espera de uma ótima projeção.
Ao apresentar uma visão écloga da vida em como ela deveria ser, sem sombra de dúvidas, esta obra de aspecto não-convencional, qualificada, intitulada como “A garota ideal”, é altamente recomendável. Estou certo de que irá emocionar até o mais indiferente e disperso ser humano.


29 setembro 2009

Filme "A TROCA"

Eu hesitei bastante em assistir "A troca" por não me identificar muito com filmes dramáticos, apesar de serem neles que se presencia, na maioria das vezes, as melhores atuações.
Num sábado à noite sem muito o que fazer, resolvi assistí-lo. E não me arrependi... tanto.

Eu não conheço muito a carreira de Clint Eastwood, talvez por protagonizar e dirigir filmes de gênero não tão atrativos a meu ver, mas confesso que ao assistir este longa, as comparações com o também dirigido por Clint, "Sobre meninos e lobos", foram instantâneas. Desde a temática similar - rapto infantil - até a criação classicista das cenas.

O roteiro se baseia em um caso real ocorrido entre 1928 e 1930. A personagem central Christine Collins, vivida pela bela Angelina Jolie (não tão bela aqui), sai para trabalhar e deixa o filho Walter em casa com um babá. Na volta não o encontra mais.
Ao recorrer à policia, eles restituem à ela uma criança presumindo ser a dela, o que não é. E mesmo ela mantendo-se relutante, o oficial responsável insiste na idéia de que encontraram a criança desaparecida.
A partir dessa premissa inicia-se uma história longa, fria e angustiante.

Angelina Jolie sempre foi reconhecida por seus lábios acentuados e insinuantes. Dona de uma beleza invejável e de uma postura incisiva no cinema, ela se apresenta aqui como uma dócil, frágil e recatada mulher, sem a beleza que lhe marcou durante sua carreira.
Apesar de eu não ter achado o filme emocionalmente definido, a atuação de Jolie foi pra mim enternecedora. Seus gestos, seu semblante, tudo muito bem representado e adequado à época. Mesmo não sendo uma tarefa fácil vê-la assim tão ingênua e contida.
Sua personagem, debilmente inocente com relação ao que lhe rodeia, sofre abusivamente pelas circunstâncias que lhes são impostas devido ao acontecimento com seu filho: ter de lutar contra a polícia de Los Angeles, para provar o erro deles na busca pelo menino, e simultaneamente tentar reaver o mesmo.

Por ser uma história real, é possível se sentir incomodado com tudo o que acontece com Christine. injustiçada inúmeras vezes, o seu culmine é o sanatório. Graças a ajuda do Reverendo Gustav Briegleb (feito habilmente por John Malkovich), um homem implacável em denunciar a intransigência e a corrupção da corporação de polícia de Los Angeles, Christine é ouvida e notada por toda a cidade, criando um alvoroço que ela jamais imaginará ou talvez quisera.

Em meio à seca dramaticidade, o filme envolve o espectador no início do filme, o problema é que Clint prolonga demais o video inserindo à história o julgamento do caso, detalhando cada ponto, tornando o longa menos empático. Principalmente por seu desfecho não ser o típico "final feliz".
É exatamente nesse momento que o filme tira o foco do sofrimento da mocinha, e tenta expurgar todos os erros acometidos à ela, apresentando a idéia de que a corrupção não está nas instituições, mas naqueles que as compõem, frisando as acusações, a investigação e a conclusão do caso. E assim, torna-o extremamente cansativo nos momentos finais (e quantos tiveram!).

Enfim, só posso dizer que "A troca" não é o filme que eu esperava. É mais inquietante do que emocionante. Em muitos momentos é sombrio, desviando-se mais para o suspense do que para o melodrama. E muitos pontos são exgerados e duvidosos (como o reverendo chegando na clínica na hora em que a personagem seria punida com choques em sua cabeça, evitando que assim o fizessem).

Mas o que mais me fez questionar o filme (e não o acontecimento em si) foi que a babá do filho de Christine nunca foi interrogada, como destacou muito bem um cinéfilo que admiro ao também resenhar sobre o filme em seu blog.
Então, para concluir, eu recomendo o filme, mas tenho a certeza de que qualquer um que vier assistí-lo distinguirá o excesso e a tibieza que Clint teve com uma tão comovente história.