Eu hesitei em escrever sobre “O ritual” logo que o assisti porque entendo a decepção que o mesmo gerou no público - vou explicar o motivo logo mais. Inclusive, concordo com as negativas críticas que este recebeu, mas achei necessário repensar sobre redigir ou não uma opinião sobre ele já que Anthony Hopkins está presente, e maravilhosamente bem.
Quando se fala em “exorcismo” é inevitável não se reportar ao clássico “O exorcista” protagonizado por Linda Blair em 73, e todo aquele vômito verde, cabeça girando, cama trepidando e etc. Surgiram também alguns herdeiros interessantes como “O exorcismo de Emily Rose”, “O último exorcismo”, tão assustadores e peculiares quanto o precursor da ideia.
Devido a isso, “O ritual” não foi tão bem recebido, principalmente pelos americanos, pois ao abordar uma temática tão bem representada e variadamente explorada, o mínimo que se esperava eram muitos sustos e sangue, afinal, sempre que aparece um filme de proposta derivada espera-se que este tente superar, ou maximizar as possibilidades do tema. Mas não foi o que ocorreu.
Acredito que “O ritual” seja o filme mais honesto no assunto, pois ele opta por mostrar o lado oposto do que já foi visto, voltando-se aos rituais em si, como o próprio título indica.
No filme, este que é baseado num livro não-fictício, revela que os tais exorcismos ainda são praticados pela Igreja Católica, com autorização e respaldo da mesma, só que por um grupo seleto e bem reduzido, isso nos EUA. Portanto, o filme tenta perambular pelo lado crível e austero da coisa, se comparado aos outros filmes que abordam o tema em questão. Mas já adianto, o “chá de cadeira” é certo, os sustos são previsíveis e mínimos, sem contar que os primeiros minutos são uns martírios de chatos, e a estória só engrena quando Hopkins aparece, o que demora um bocado.
Em relação ao grande astro, ele está magnífico aqui. Enfático, preciso, compenetrado e muito convincente, como não se via há algum tempo. E ainda consegue introduzir certo humor ao personagem, o que não prejudica sua composição; atributos que só um “velho de guerra” consegue com tanta eficácia.
É também percebido que Hannibal Lecter, seu antológico e pronunciado personagem, foi uma inspiração aqui, para não dizer uma voluntária reminiscência, talvez por este motivo ele próprio tenha sido só elogios para com este filme.
Mas o personagem central, na verdade, é o sonolento Colin O´Donughue, importado da série “The Tudors”. Ele aqui é um jovem cético e humilde que, em busca de uma educação de qualidade, parte para o seminário. Dificuldades à parte, ele é mandado para a Itália, para estudar em uma escola especializada em exorcismos. Lá ele é encaminhado para uma pequena aldeia em que se concentram os casos mais recorrentes de possessões demoníacas.
Como sempre, a figura endemoniada é uma figura feminina, sob a posse de mais um espírito resistente e extremamente desafiador. Mas ao contrário de todos os exorcismos já vistos no cinema, como já sobredito, tudo aqui é muito “tranquilo”. Até mesmo “Constantine” de Keanu Reeves é mais assustador no que concerne às esconjurações.
O filme conta também com a notável participação de Alice Braga (“Predadores”). Ela, com certeza, a brasileira mais presente em longas ianques, com papéis significativos até, tem seu considerável esforço comprovado aqui.
Alice não fica devendo em nada e mostra aptidão no que faz. E isso não é simpatia pátria [somente], é o reconhecimento de um talento nosso em ascensão em um meio tão hermético como Hollywood.
Continuando no que diz respeito ao roteiro, não levando em conta algumas incoerências contextuais, o grande furo do filme mesmo é partir para uma linha investigativa, acentuando a dramaticidade da situação e esquecendo de aguçar o necessário medo no espectador, afinal, é isso que normalmente os filmes de horror proporcionam.
O público que é atraído por essa espécie de entretenimento, ainda mais se tratando de algo que envolva manifestações demoníacas, espera que o pavor seja aflorado no decorrer da projeção, não obstante, em “O ritual” tudo isso é, erroneamente, deixado em segundo plano, perdendo a chance de ser mais um expressivo integrante do time das possessões. Ainda mais tendo Hopkins no casting, abrilhantando a película.
Por fim, é mais que compreensível às críticas negativas que recebeu o filme em terras do "Tio Sam". Os fãs não polpam filmes, aparentemente proeminentes para o gênero, sendo desperdiçados assim. Contudo, que fique claro, o filme não é de todo ruim, só não é o que se espera.
Um comentário:
Anthohy Hopkins interpretando um exorcista parece ser algo interessante de se ver.
http://cinelupinha.blogspot.com/
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