05 fevereiro 2010

Filme "RESISTINDO ÀS TENTAÇÕES"

Beyoncé por ser a evidência da vez no meio musical, me inspirou a resenhar sobre o filme “Resistindo às tentações” estrelado por ela em 2003, época de seu debute em carreira solo.
Quando o assisti pela primeira vez, logo que lançado direto nas locadoras, instantaneamente me deslumbrei com a estória e a trilha sonora. Hoje, estando eu um pouco mais experiente e com uma visão mais apurada no que diz respeito à sétima arte, tenho outra postura concernente à estória, embora algo continue imutável em relação ao mesmo: a aprovação pelas músicas.

O filme traz também a presença de Cuba Gooding Jr. na pele de Darrin Hill, um executivo desonesto recém despedido de uma agência de publicidade.
Como um promissor escape de sua situação desesperadora, ele descobre que sua tia, moradora de uma pequena cidade no estado de Geórgia, a qual também é sua cidade natal, faleceu e lhe deixou uma herança de 150 mil dólares. Entretanto, para ele se apossar de tal bagatela, será necessário cumprir uma cláusula nada fácil exigida por sua finada tia como último desejo: gerenciar um coral na igreja em que ela era membro e transformá-lo no vencedor de uma concorridíssima competição gospel.
Sem opção, ele então retorna ao lugar, se passando por produtor musical e ingressando nessa aventura totalmente nova para ele.

Como se pode ver, o enredo desde o princípio apresenta uma essência evangélica bastante expressiva, o interessante é que o filme não é regado de oportunismo, apologia ou manipulação como costuma ser as projeções de cunho religioso.
Na verdade, “Resistindo às tentações” não passa de uma comédia ligeiramente cristã embalada pelo o melhor da música Gospel, tendo ainda a contribuição de várias tiradinhas sarcásticas (com certa reserva, lógico) junto ao tema.
Quanto à direção do filme por conta do indiferente Jonathan Lynn, dono de um currículo marcado unanimemente por comédias sem originalidade, não passou de mera colaboração, pois o resultado do filme depende muito mais do talento vocal dos participantes do que propriamente dito do diretor.
E talento é o que não falta, graças aos ótimos e variados representantes nomes do Gospel, R&B e hip-hop, entre eles: a reverenda Shirley Caesar, a dupla Mary & Mary, os garotos cegos de Alabama, Angie Stone, Melba Moore, The O'Jays, entre outros.

Já a atriz principal, Beyoncé, em termos de atuação está sofrivelmente apática, no entanto, quando abre a boca, seu talento musical é indiscutível, fazendo-nos compreender plenamente o porquê de sua escalação como tal.
Enquanto Cuba Gooding Jr, reconhecido por seu competente timming cômico, não está em sua melhor forma no papel, aparentando até um ligeiro desconforto. No obstante, seus piores momentos mesmo, desprovidos de qualquer química, se dão quando há interação entre ele e Beyoncé.
Inda assim, dentre as películas estreladas por Beyoncé, esta, na intenção de destacar sua imagem, foi a mais bem sucedida, diferente do mais recente e também musical “Dreamgirls”, no qual ela foi totalmente desfocada pela presença de Jennifer Hudson.

De qualquer forma, filmes musicais, em suma, costumam ser duvidosos graças à mesmice que paira sobre seus roteiros.
Não fugindo à regra, “Resistindo às tentações” se rende aos clichês mais gritantes e sequenciais, com direito a um desfecho previsível e açucarado. Portanto, para avaliar esta película que, como todo musical, se sustenta em meio às canções e não ao argumento estrutural, o jeito é analisar estritamente as canções.

E como já foi mencionado, o longa nesse quesito, não fica devendo a ninguém. Entre tantos representantes do gênero como o potente e supracitado “Dreamgirls”, o incessante e exagerado “Hairspray” e o insosso “Nine”, "Resistindo às tentações" dá a sua precisa contribuição, conseguindo ainda por cima evitar um erro muito comum no gênero: o excesso de cantoria.
Tudo bem que são películas especificamente sonoras, mas esse fato não extingue por inteiro uma trama que seja. E aqui, mesmo sendo seu roteiro ingênuo, floral e óbvio, não deixa de ser divertido.
As canções não substituem simplesmente os diálogos, elas são partes imprescindíveis durante as passagens da história. E apesar de ser mais fraco, é impossível não compará-lo à “Mudança de hábito” de Whoopi Goldberg – com certeza, sua maior inspiração, tanto pela semelhante estória, quanto pelo pano de fundo religioso.

Porquanto, admito que pra mim seja extremamente difícil ser imparcial em relação ao longa, afinal, ele atende inteiramente minhas preferências musicais... é por este motivo que minhas constatações soam um tanto apaixonadas – posto que, qualquer pessoa de bom senso saiba reconhecer quando uma música é bem representada, inda que esta não supra seu gosto pessoal.
Mas nem por isso deixo de reconhecer que “Resistindo às tentações” não é uma obra-prima, nem o melhor do gênero, muito menos inovador, e sim, somente um filme auditivamente belo que soube conquistar tal título com louvor (!) – a rima foi péssima, mas o trocadilho foi apropriado...
Logo, não se podendo exatamente analisá-lo, visto que sua estória é extremamente convencional, independente disso, ele merece ser ouvido, pois uma trilha sonora gospel ao transitar pelos estilos seculares denominados como Hip Hop, Black, R&B e jazz, sem envolver o senil conservadorismo litúrgico é uma tremenda façanha!

Então, sem mais, a você que aprecia música em todos os sentidos, o consentimento positivo por esta retratação caricata e bem-humorada do cotidiano de uma igreja protestante americana dominantemente negra, será inevitável!
Agora, caso você seja avesso a essa arte, reformulo minha recomendação: simplesmente ignore-o, porque além das músicas não sobra muito.


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