24 fevereiro 2010

Filme "À PROVA DE FOGO"

Que a atual safra cinematográfica tem se concentrado em estórias tragicamente violentas não é novidade. Assassinatos, sequestros, suicídio, desaparecimento, rompimentos amorosos, entre outras infelicidades, são alguns dos assuntos já tratados. Porém, ainda que tais temas elevem o impacto diante do público, simultaneamente, eles não caem no gosto do mesmo. O que é compreensível, pois ao nos depararmos com um dia-a-dia desesperador, espera-se no mínimo uma abordagem mais suave de nossos problemas civis no cinema, nem que seja casualmente.

E por falar nisso, Alex kendrick, o inexperiente diretor e roteirista cristão, que tem como seu maior trabalho o irregular “Desafiando gigantes”, reaparece com mais uma estória sobre vitória pessoal agora intitulada como “À prova de fogo”.
Neste, a estória gira em torno de Caleb, um bem sucedido capitão dos bombeiros, que está passando por sérios problemas conjugais, devido as diferenças que impera entre ele e a esposa.
Ele é um homem ambicioso e impaciente que visa sua carreira e seus bens acima de tudo, alternando seu tempo entre trabalho e pornografia na internet. Sua mulher, por outro lado, carente e decididamente distante - reflexo do tratamento que recebe do marido -, parece se interessar por outro homem em seu trabalho.
Apesar de não ser um filme intenso, Kendrick consegue desta vez, e com muita coerência, se aproximar da rotina de um casal normal. Ainda mais quando este enfoca as discussões entre os cônjuges e os motivos pelos quais elas surgem. Até me lembrei de “Separados pelo casamento” nesse sentido.

Umas das características mais marcantes de Kendrick como diretor é sua sede por retratar estórias de superação. Sem muita experiência e sem muita verba para dar vida a projeções no mínimo respeitáveis, ele sempre mantém a mesma linha, buscando finalizar suas tramas de forma positiva e exemplar.
Nesta película não é diferente. O casal tem um árduo caminho para reatar os fragmentos de seu casamento que, apesar de não estar oficialmente desfeito, na prática já não existe qualquer indício de intimidade e cumplicidade.
E esse dificultoso caminho rumo à resutaração matrimonial tem início quando o pai de Caleb, percebendo então o iminente divórcio do filho, propõe-lhe um método denominado como “desafio do amor”, que consiste em colocar em prática um simples programa de 40 dias no qual a pessoa realiza pequenas atividades diárias com o objetivo de reconquistar o parceiro.
Caleb, então, ainda relutante, parte nessa jornada. E mesmo sob uma narrativa extremamente corriqueira, tudo é contado de forma bem eficiente e objetiva. Diversas das dificuldades enfrentadas por Caleb ao tentar se adaptar ao plano oferecido pelo pai são totalmente críveis e visivelmente torturantes, pois envolvem submissão, mudança de temperamento, abdicação de diversos defeitos causados pelo ego, a lascívia e a vaidade, visto que o maior empecilho é o próprio “eu”.
Até o slogan estampado na capa do DVD, transmite apropriadamente esse ideal: “Nunca deixe seu parceiro para trás”. Um dual significado em relação a Caleb por se aplicar tanto para bombeiros quanto para casais.

No entanto, a possível qualificação do filme se resume estritamente em sua proposta, pois este tem múltiplos problemas, desde sua estrutura à parte técnica. Tendo ainda a "contribuição" do superficial desempenho dos aspirantes aqui – recuso-me a chamá-los de atores, porque falta muuuito para tal classificação.
O desfecho também não é muito interessante devido a sua previsível e fácil resolução. Por isso, “À prova de fogo”, repleto de inúmeras e notáveis limitações, inclusive textuais, se salva por um específico, sobredito e elogiável ponto: inspirar casais em crise.

Muitos das críticas que li sobre o filme, reclamaram da essência maniqueísta que ele transpassa. Também pudera, o mesmo é catalogado como um filme cristão, então, não haveria outro foco. Porém, a questão maior é que muitos se incomodam exatamente pelo filme seguir o gênero “religioso”.
A meu ver, qualquer pessoa, seja de qual religião for, quando se tem algo consistente a dizer, merece ser ouvida. Preconceitos relacionados a crenças deveriam ser ignorados no que diz respeito a cinema, pois cada indivíduo tem capacidade o suficiente para distinguir o que deve ou não ser absorvido por si.
Em “À prova de fogo”, acima de qualquer discursivo religioso, panfletário ou dicotômico envolvendo o bem e o mal, é um longa que vem com ótimos princípios sociais.
Entre tantos filmes vazios e desconexos presenciados no mundo da sétima arte, este tem um objetivo totalmente altruísta. Seus argumentos para se salvar o casamento são consistentes e adaptáveis a qualquer pessoa, independente da enaltecida inspiração divina reconhecida pelo protagonista quando este se decide por viver o programa de 40 dias. E se a retratação cai no clichê, posso certificar que não é o único filme a recorrer a essa medida, a diferença é que o fim de tudo vai além do simples fato de emocionar gratuitamente o espectador. Sendo assim, eu o considero um bom filme; um filme que tem uma razão e se esforça por transmiti-la sem ofender.

Enfim, resumindo, eu faço um apelo: não ignore seu senso crítico ao assistir “À prova de fogo”, apenas deixe seu egocentrismo de lado, e da forma mais humilde possível, tente assimilar as mensagens positivas emitidas pelo mesmo. Como já dito, dentre tantos filmes hollywoodianos negativamente influenciáveis e propositalmente polêmicos, esta simples película independente, despretensiosa e bem intencionada não o fará perder tempo ao vê-la, você só precisará se desprender de alguns conceitos negativos para deleitar-se com ele de forma plena. Não é fácil, mas também não é impossível.


2 comentários:

Unknown disse...

Sim. A mensagem, o filme é ótimo, apesar de faltar movimento na trama.

Legal, eu tava vendo aqui, vc é da Serra neh. Moro em Vitória e tava buscando na net sobre alguns filmes cristaos e achei seu site lá.
Parabéns.

Até+,
Rafael Freitas

Luciano Reis disse...

Oi Rafael, sou da Serra sim. Valeu pelo elogio. Sinta-se bem-vindo em meu pequeno espaço virtual. Obrigado pela visita.