Eu já havia assistido, em meados do ano passado, o filme em questão “Guerra ao terror”, logo que lançado diretamente em DVD, e por incrível que pareça, quando o vi não achei grande coisa, nem sequer fiz questão de pesquisar sobre o tal para possivelmente comentá-lo.
Mas ao que parece, sua repercussão inicialmente chocha em nosso país ficou restrita ao nosso território, porque o filme é simplesmente sucesso absoluto, e um dos mais cotados para o Oscar deste ano como melhor filme, apontado até como grande ameaça ao favoritíssimo “Avatar” de James Cameron.
Bom, diante deste fato eu tenho que perguntar: como isso aconteceu? Eu simplesmente fiquei pasmo, boquiaberto, sem qualquer reação diante dessa notícia. Não fazia ideia de que eu havia visto antecipadamente o filme sensação da vez de forma tão despercebida.
Como não poderia ser diferente, eu fiz questão de o rever com toda a meticulosidade necessária, e compreendi então, sem qualquer oportunismo, o porquê de todo esse “boom” em torno dele.
Como não poderia ser diferente, eu fiz questão de o rever com toda a meticulosidade necessária, e compreendi então, sem qualquer oportunismo, o porquê de todo esse “boom” em torno dele.
Indispensável é afirmar em um momento tão propício que há inúmeros filmes proveitosos do gênero bélico como, o oscarizado “Platoon” de Oliver Stone e o clássico “Apocalipse Now” de Coppola, pra mim os mais consideráveis. No entanto, não preservo qualquer simpatia pelo universo cinematográfico das forças armadas, obviamente por isso eu não me envolvi a princípio com “Guerra ao terror” – eu até cochilei em boa parte dele.
O meu argumento para sustentar meu desinteresse nesse caso, vai desde a mesmice do próprio tema a antipática abordagem patriótica. Só que em “Guerra ao terror” algumas de suas particularidades mudam o aspecto negativo que tenho com relação a filmes de guerra, e tudo isso se deve ao diferencial que o mesmo apresenta, começando por seu baixo orçamento. Normalmente em produções assim o custo é dispendioso e o protagonista costuma ser do tipo “figurinha fácil”, mas este, com apenas U$ 11 milhões (mixaria se comparado aos seus antecessores) ,e com um elenco pouco expressivo, exceto pelo ator David Morse, conseguiu com muita competência ser a surpresa - exceção da vez.
Tudo começa de forma dispersa e pouco envolvente, e sua narrativa altamente lenta, como já dito, chega a provocar sono nas primeiras tomadas. No obstante, a trama notavelmente extensa com seus 131 minutos, gradualmente vai ganhando outro rumo a partir de sua metade, desde então a emoção e a adrenalina não deixam mais o espectador. O curioso é que o foco não se dá pelas explosões, confrontos ou tiroteios em si, mas sim, pela tensão em torno dos soldados.
A guerra (claro...) se passa no Iraque e atenta-se em específico ao personagem sargento William James (Jeremy Renner), integrante de uma unidade do Exército americano em Bagdá especializada em desarmar bombas. Juntamente com ele temos outros dois militares, o sargento J.P. Sanborn (Anthony Mackie), e o soldado Owen Eldridge (Brian Geraghty). E sob a visão destes três personagens é que vemos o verdadeiro teor de um combate: seu lado viciante e insano. O que envolve consequentemente outros fatores também como: a pressão psicológica; a inquestionável submissão em grupo a ordens reacionárias; a aliciante imagem de heroísmo; e, não menos importante, a desprendida dedicação pessoal a missão... tudo transmitido com um realismo impressionante.
As cenas de tocaia são as mais angustiantes e convincentes a meu ver. Sem contar com os momentos apreensivos que os militares passam ao se depararem com situações de desarme de bomba. Tudo graças à elogiável linha traçada pelo roteiro de Mark Boal, que verificou a fundo o cotidiano de um exército durante semanas por volta de 2004.
As atuações são precisas e críveis, sem ter onde pôr defeito, principalmente em relação à intensa interpretação de Jeremy Renner como o sargento Willian James, bastante aproveitada graças aos belos e inquietos ângulos captados de suas cenas.
Agora, o que me deixou desconcertado foi ver a ótima direção de Kathryn Bigelow – ela, ex-mulher de James Cameron, seu maior concorrente na corrida rumo à estatueta – junto a “Guerra ao terror”. Quem diria que um trabalho tão comentado e positivamente criticado seria fruto de um trabalho feminino? Não que eu julgue mulheres incapazes, por favor, mas alguém há de convir que seja extremamente raro encontrarmos uma cineasta que não opte por estórias mais delicadas e sob uma ótica um tanto cor de rosa. Portanto, devido à ousadia de Kathryn, rompendo barreiras, inclusive com pouco recurso, esta obra se torna ainda mais admirável.
Quanto ao final do filme, este é sem dúvida o momento mais emblemático, concluindo com louvor o que foi expresso no início do filme por meio de uma frase: “a guerra é uma droga”. Se fazendo entender que assim o é não só pela dissimulada estupidez de sua causa, mas também pelo seu efeito viciante. Afinal, se de alguma forma, por mais doentio que pareça, a guerra não fosse prazerosa ou gratificante, tais batalhas já teriam sido extintas em nossa sociedade que se diz evoluída e civilizada.
Enfim, diante de tantas qualificações, apesar de seu início paulatino, “Guerra ao terror” merece sua atual ascensão. E como eu faço parte do movimento que não se fascinou com o bazófio “Avatar”, embora não o desmereça por isso, minha torcida, além de minha recomendação, lógico, é incontestavelmente direcionada a projeção sob os cuidados Kathryn Bigelow, que conseguiu me render inteiramente a uma obra sobre guerra.