01 novembro 2009

Filme "A ORFÃ"

O filme “A órfã” (Orphan) não é o tipo de película que atrai pelo cartaz – o deste está especificamente medíocre –, muito menos pela sinopse. Sabe por quê?
Que novidade há em filmes sobre órfãos hostis, ou crianças macabras? A se julgar por outros títulos lançados que aborda o tema, nenhuma.
Porém, o diretor Jaume Collet-Serra provou que é possível repaginar o gênero, ainda que não seja de forma totalmente original.

Na estória, temos o casal Kate e John, tentando se readaptar a rotina de casal, após superarem problemas como infidelidade e dependência alcóolica.
Dentre tantos problemas, Kate também sofreu um aborto, e por tal motivo, ela e John decidem adotar uma criança para preencher essa lacuna emocional, apesar de acharem conforto na presença de seus dois filhos biológicos, Daniel e a pequenina Max que é também deficiente auditiva (consequentemente muda).
Então, ao aderirem a adoção, entra em cena Esther, uma menina de 9 anos, que possui um aguçado intelecto, acompanhado de talentos extraordinários, e um gosto peculiarmente nostálgico quanto à indumentária.
A partir da presença de Esther na casa, uma série de eventos perigosamente incomuns passa a ocorrer. E pelo comportamento inicialmente introvertido e suspeito da menina, Kate passa a acreditar que ela esteja envolvida nos tais acontecimentos; o problema é que nem seu marido, nem sua terapeuta, acreditam em sua versão: há algo errado com Esther.

Bom, a primeira lembrança que veio à minha mente ao assistir “A órfã” foi a de “O anjo malvado” (The good son, 1993) estrelado pelo suplantado Macaulay Culkin – elogiável como o vilãozinho do filme na época.
O filme também é ambientado no inverno, com direito a casa na árvore e a referências de acidentes ocorridos em lagos congelados.
Embora, mesmo com semelhanças fáceis de detectar, o espaço cronológico entre eles torna evidente as particularidades e os avanços do tema desde então.
“O anjo malvado” é um filme mais realista e mais comedido no tocante à violência explícita, enquanto “A órfã” recorre a um nível de sadismo e tensão pouco explorados em filmes sobre sociopatas infantis.
Desde o prólogo é possível notar que o longa não se trata de um suspense moderado.

O estilo do diretor Jaume no gênero, pode ser conferido anteriormente na descartável refilmagem “A casa de cera”, marcado por sua pouca consistência contextual, que tenta se compensar pelo visual perturbador que compõem suas cenas.
Em “A órfã” podemos começar por todas aquelas que envolvem a supracitada Esther, interpretada pela precoce Isabelle Fuhrman.
A atriz juvenil que, na verdade, tem 12 anos, e é o que há de melhor no filme. Normalmente um ator mirim ganha evidência na mídia quando este demonstra uma vanguarda habilidade em transmitir emoção. No caso de Isabelle, ela não precisa ser chorosa como Dakota Fanning, ou tão introspectiva como Halley Joel Osment, para o espectador perceber o quão insigne ela é.
Ela realmente demonstra com clareza a frieza e a dissimulação necessária para compor uma personagem tão desumana. E o melhor: ela realmente assusta.

Já a pequenina Aryanna Engineer, como a dócil Max, é uma graça. Eu me encantei ainda mais por ela ao saber que a mesma é deficiente auditiva na vida real.
Quanto ao elenco adulto, o ator Peter Sarsgaard, como John, está confortável no papel, mas é Vera Farmiga que convence melhor no quesito atuação (talvez por seu papel ser notavelmente mais exigente).

Num apanhado geral, pode-se dizer que o filme realmente não é autêntico e abusa dos clichês mais característicos. Até as personalidades de cada personagem é um verdadeiro revival de estereótipos: A mãe depressiva e dedicada, traumatizada por motivos pessoais, que tenta reprimir algum tipo de vício (como bebida, cigarro, ou remédios...); a criança que presencia tudo, mas que, por algum empecilho, não pode contar; o pai indiferente que põe em descrédito os alertas da esposa; o filho ciumento que se torna alvo fácil por sua prepotência; uma autoridade (religiosa, ou civil) ligada à criança que se dispõe a avisar a família...
Tudo muito proposital para que no momento certo cada um tenha sua dose de participação nos sustos e nas surpresas.
Ou seja, é o típico perfil de filmes em que o suspense está centrado na figura de uma criança misteriosa.

Enfim, sem querer parecer contraditório, “A órfã” é uma boa pedida para um suspense. Não que isso retire o incômodo que há em se ver tantos elementos requentados de obras similares, mas só o fato de ser um filme que apresente uma criança como antagonista, não sendo ela um ser imortal, já é um alívio.
O clima pesado e agonizante – ainda mais, para o elenco infantil que, por sinal, tira de letra – deste suspense progressivo, já garante a diversão. Destaque para o desfecho inopinado da trama.
Há alguns que afirmam que esse ou aquele conseguiu desvendar o filme premeditadamente, todavia, tem que se reconhecer que o final é, ainda assim, inusitado.
Agora, ressalto que assistir “A órfã” pode ser uma influência negativa para pessoas que são impossibilitadas de ter filho, se estas se impressionarem fácil. Afinal, após presenciarem tal experiência, mesmo que fictícia, a adoção poderá não ser mais uma opção para eles.


Um comentário:

Anônimo disse...

Não e´grande coisa , mas pelo menos o final é '' surpreendente'' rs.